quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Ateu Virtuoso: outro comentário de livro.

Antes de falar sobre o livro dessa semana, devo falar um pouco sobre minha relação com livros. Uma característica minha é a necessidade de não ficar em apenas um livro do autor, principalmente quando eu gosto desse primeiro contato com a escrita dele. Foi assim com Nietzsche, com Voltaire, Bertrand Russell, Schopenhauer, Kafka, Camus e muitos outros. Paulo Jonas de Lima Piva agradou-me muito com o Ateísmo e Revolta, o qual falei no post anterior. Nesse livro ele chegou a citar um outro livro escrito por ele. E acabei encontrando esse livro a venda numa livraria da UERJ. Sempre que vou a uma universidade procuro saber se há livrarias, alias adoro livrarias. 

O Ateu Virtuoso, se eu não estou enganada, foi adaptado da tese de doutorado do autor. Ele tem como subtítulo Materialismo e Moral em Diderot, isso significa que o livro alem de discorrer sobre a vida e obra de Diderot, ele trava uma discussão sobre a necessidade (no caso não-necessidade) de Deus na construção da moralidade.

Para o autor, Diderot visita esse tema de maneira sistemática em sua obra. Alias o tema da moralidade parece ser muito caro ao pensador francês. A exemplo do Ateísmo e Revolta há uma análise dos vários aspectos da obra de Diderot, assim como uma descrição muito interessante do reflexo que sua obra e suas ideias influenciaram o Iluminismo francês, a atuação dele como um enciclopedista, afinal é basicamente impossível falar de Iluminismo sem mencionar a Enciclopédia e os enciclopedistas. Ele volta a falar em certos momentos de Jean Meslier, fala dos libertinos. Vale lembrar que o termo libertino nessa época não tinha conotações exclusivamente sexuais. O conceito da palavra estendia-se a toda liberdade irrestrita de pensamento. Nesse sentido os pensadores ateus eram também chamados de libertinos. Afinal era uma forma de pensar livre, e desafiava o status quo.

Depois dessas considerações históricas e filosóficas sobre Diderot, segue uma análise de cada livro escrito por ele, e como ele trata o materialismo e a moral neles. Como esses livros, alguns em forma de ensaio, outros em forma de romances, dialogam com obras de outros autores da época e até mesmo anteriores. Alguns são de temática sexual. Outros falam sobre religião, mas mostrando que nesse contexto a moralidade é bastante questionável. Compara alguns romances desses com a obra do Marquês de Sade. Dá muita vontade de sair comprando tudo que é livro de Diderot.

Ele também menciona a relação de Diderot com Catarina II da Rússia, nesse aspecto o livro chama atenção pro fato de filósofos eventualmente aconselharem figuras despóticas, como foi o caso de Aristóteles e Alexandre o Grande, e Sêneca com Nero. Diderot a princípio era contra, pois achava que filósofos não tinham que se meter, mas depois mudou de ideia, acreditando que assim poderia fazer que essas pessoas fossem mais esclarecidas. 

São muitos detalhes levantados nesse livro, não é possível comentar todos os aspectos nesse post. Afinal isso não se propõe a ser um mega ensaio, o objetivo é falar sobre um livro que gostei, e ajudar a ampliar a bibliografia sobre ateísmo. Esse livro vale muito a pena. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ateísmo e Revolta: um pequeno comentário (espero que dessa vez sem bug)

Dentro da crescente bibliografia sobre ateísmo, um livro chamou-me bastante atenção. Não é dos livros mais citados e comentados sobre o tema, talvez por isso resolvi escrever algumas linhas sobre. Eu o encontrei por acaso numa estante de Filosofia na livraria Prefácio no Rio de Janeiro. O título é justamente  Ateísmo e Revolta, o autor é Paulo Jonas de Lima Piva. Pode-se encontrar informações sobre ele nesse link(aqui).

O livro fala sobre um personagem da história do ateísmo bastante improvável. Um padre, e sim, esse padre era ateu. Trata-se de Jean Meslier. Confesso que adorei saber que esse homem existiu.          Pra falar a verdade, se não fossem algumas informações contidas na capa e na orelha do livro, não seria pelo título que eu resolvi compra-lo. Mas já na capa esta escrito que o livro fala do padre ateu. E como ele influenciou a noção atual do ateísmo.


Jean Meslier nasceu em Mazerny em 15 de junho de 1664 e morreu em Étrépigny em 17 de junho 1729, estes dados mostram que ele esta inserido no contexto do Iluminismo francês.            Ele levou uma vida normal de sacerdote católico numa aldeia francesa. Cumprindo com seus deveres, realizava missas, pregava como todo padre. Mas na intimidade escrevia um diário, nesse diário ele falava abertamente sobre sua descrença, escrevia coisas sobre Deus e Jesus que fariam muitos ateus de hoje corar. Falava da repulsa que ele sentia do clero e da aristocracia. O que também o aproxima politicamente do comunismo e do anarquismo, dependendo da fonte que se lê a respeito desse padre. Este diário tinha por objetivo pedir desculpas póstumas aos frequentadores de sua igreja por ter mentido sobre a existência de Deus. Tudo que ele proferia seria mentira. E mostrava argumentos fortes contra a existência desse Deus. Um dos primeiros filósofos a ter acesso a esses manuscritos foi justamente Voltaire, mas ao editar o diário, que foi publicado com o nome de Testamento de um Padre de Aldeia, o fez disfarçando dando a impressão de que Meslier seria um deísta aos moldes de Spinoza. Mas ainda bem que a História mostrou a verdade desse caso.

Em Ateísmo e Revolta, Paulo Jonas destrincha cada detalhe desse homem, mostra os tais argumentos usados por Meslier para demolir a existência de Deus. Mostra as influências filosóficas desse pensador inusitado. Mostra como ele era original em suas ideias. E como ele influenciou pensadores até mesmo do porte do Diderot. E não esquecendo de Voltaire também. A ponto de uma frase super famosa que costuma ser atribuída ou a Diderot ou a Voltaire, na realidade ser de autoria do padre.


A frase é essa:

‘Eu gostaria, e este será o último e o mais ardente dos meus desejos, eu gostaria que o último rei fosse estrangulado com as tripas do último padre’

Na realidade Diderot a usou com uma leve mudança, e foi assim que a frase chegou até os dias de hoje.
 o homem só será livre quando o último rei for estrangulado com as entranhas do último padre”



O livro Ateísmo e Revolta provavelmente não é tão fácil de ler, ele segue um padrão mais acadêmico no texto, mas ao mesmo tempo o autor tem tanto carinho pelo personagem, que ele prima pela clareza do texto, não permite que a formalidade ofusque o brilho do personagem comentado. O livro também compara autores contemporâneos e levemente posteriores que também contribuíram para a História do ateísmo. Barão d' Hollbach,  Marquês de Sade, Feuerbach e muitos outros.


Meslier também é citado no excelente livro Tratado de Ateologia de Michel Onfray. Posso vir a escrever sobre esse outro livro numa outra oportunidade.


Espero ter contribuído de alguma forma com esse pequeno texto.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Cartório do Kafka.

Apesar de não ter criado esse blog para falar de assuntos pessoais, já é a segunda que o faço. Mas acho importante descrever o que se passou nesse mês. O assunto anterior foi um problema com o banco, agora o problema foi um cartório. Creio que é interessante compartilhar isso, pois se alguém se identificar com o problema poderá exercer sua crítica também.

O problema começou quando minha mãe me liga da cidade onde eu morava antes de vir para São Carlos (SP). Eu morava numa casa que esta sendo utilizada pela minha irmã como consultório. Então, o problema foi a conta astronômica de luz do imóvel. Haveria a necessidade de parcelar, ou entrar com um processo por grande possibilidade de contagem errada do relógio. A conta de luz ainda esta no meu nome, minha irmã a usuária não poderia resolver isso sem uma procuração minha. Então fui ao cartório providenciar o tal documento. Isso foi há um pouco mais de 1 mês. Só hoje pude pegar a procuração no cartório.

Já morei em outras cidades antes dessa, já tive que fazer procuração por um motivo ou outro, e geralmente em 1 ou 2 dias eu recebia o documento e estava tudo certo. Nunca vi um caso de demora como esse. O atraso segundo o rapaz que me atendeu, recolheu as informações e redigiu a procuração, foi por causa do tabelião que tinha que conferir a procuração, e pelo volume de papel na mesa dele a minha tinha que esperar a vez. Depois da liberação do tabelião vinha a etapa que eu tinha que assinar o documento. Cheguei no cartório na sexta-feira da semana passada, e tive que esperar o rapaz ler as quatro páginas do referido documento. Sim, ele leu na íntegra. Depois seguiu-se quase 1 hora do rapaz entrando e saindo de salas até imprimir a procuração num papel oficial timbrado. Até que eu pudesse assinar e pagar pela procuração, o custo ficou em 154,00 reais. Não sei se em outras cidades o preço é esse mesmo. Mas achei caro. Problema resolvido? Não, claro que não. O documento teria que voltar ao tabelião para ele assinar, havia a promessa da liberação no mesmo dia, mas não foi isso que aconteceu. Enquanto isso minha mãe pressionando, e eu pressionando o cartório. Mas uma vez Kafka entra na minha vida.

Nesse processo todo descobri que apenas 2 cartórios atuam nessa área na cidade. Há um terceiro que atua apenas em registro de imóveis, pelo que o taxista que me levou ao cartório me falou a coisa parece uma máfia, e como são poucos cartórios na cidade os funcionários abusam muito do poder que têm e fazem as pessoas esperarem muito mesmo.

Finalmente a procuração já esta nas minhas mãos ainda tenho que enviar pelo Sedex. Nisso a luz lá já foi cortada. Por via das dúvidas pedi pra fazer uma procuração mais abrangente possível, espero não ter que fazer outra tão cedo enquanto estiver morando aqui.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pirâmides: ou como deixei de acreditar em aliens.

Uma das coisas que mais me fascinavam na minha adolescência eram as pirâmides de Egito, as histórias dos deuses, a ideia de que uma mulher chegou ao poder por ali. Eram tantas referências culturais, alem do mais os deuses eram retratados de maneira bastante estilosa. Até que comecei a ouvir aqui e ali hipóteses de que alienígenas estiveram por lá e deixaram aquilo tudo como legado.

Eu, ainda adolescente, não era difícil de se deixar seduzir por essa ideia, cheguei a ler trechos de 2 livros do Erich von Daniken, mas o livro dessa época que me pegou pelo pé foi um chamado As profecias da Pirâmide de Max Toth, quase não ouço outras pessoas falarem dele.

Neste livro há uma série de tentativas de associar passagens da Grande Pirâmide e suas inscrições com passagens bíblicas, demonstrando que era ali que estava a origem de todo conhecimento humano. Em outras passagens do livro menciona Atlântida como algo que sem sombra de dúvidas existiu. Passei anos pensando nessas ideias como fatos incontestáveis da história. Atlântida existiu, o Egito colonizado por ETs, e as pirâmides como fontes primárias da Bíblia.

Até que depois de algum tempo fui tornando-me uma pessoa mais cética, não necessariamente sobre esse assunto, muitos outros assuntos foram tomando conta da minha agenda intelectual, como Ciências Ocultas, cheguei a frequentar a Ordem Rosacruz, nesta ordem também se falava muito sobre o Egito, sobretudo Akenathon, suposto fundador da Ordem. Mas comecei a perceber que minha situação ali era o começo do meu processo de descobrir-me ateia. Afinal eu estava buscando respostas em lugares diferentes das religiõs tradicionais. Uma ordem secreta é tentador nesse sentido.

Nessa época eu já havia me separado da minha família, estava morando num pensionato de freiras, imagina a situação? Ainda bem que essas freiras tinham uma postura "muderninha", elas apenas gerenciavam aquele espaço que era voltado a alojar moças distantes das suas famílias. Não se metiam na vida das pensionistas.
Lá fiz um monte de amigas, afinal 70 mulheres morando juntas, rolava muito debate, dependendo da área de estudos de cada uma havia sempre uma contribuição de acordo. A sala de TV era essa arena onde a maior parte das conversas se davam. Alem disso tudo, rolava muito intercâmbio de livros entre nós. Até que um desses livros emprestados caiu nas minhas mãos. O livro era Livro de Ouro dos Grandes Mistérios da Antiguidade, Peter James e Nick Thorpe. Nesse livro os autores falam de vários temas, incluindo a possibilidade de personagens como Rei Arthur e Robin Hood terem se baseado em figuras reais e tudo mais.

Como não poderia deixar de faltar, sim, temos pirâmides nesse livro, foi aí que li pela primeira vez uma explicação bastante humana, na escola não conta muito, pois lá eles não entram nos detalhes da engenharia e arquitetura investidas ali. Os autores demonstram a partir de dados como, datação das pedras, análises geológicas, e outros dados que não lembro muto bem que sim, os próprios egípcios construíram aquilo.
Nesse livro os autores aproveitam para atacar as ideias de Erich von Daniken, mostrando que nenhuma comunidade científica o levava a sério com essa história de ETs. Inclusive a explicação que eles dão pro sucesso dessas hipóteses alienígenas na Europa, passa por um conceito racista, afinal é fácil pensar que um povo antigo da África não teria condições de construir nada alem de uma tapera.

Interessante pensar que essa explicação longe de tirar o brilho do povo antigo, acho que aos meus olhos a grandeza daquela civilização só aumentou. Depois fiquei sabendo que o hábito de embalsamar os corpos os dotaram de conhecimentos anatômicos bem abrangentes.

Mas para aqueles que insistem na explicação alienígena, eu só acho que um povo com avanço tecnológico suficiente pra chegar até aqui, provavelmente faria uma construção mais prática, se formos observar as construções modernas, a tendência é cada vez os materiais ficarem mais leves, muito uso de vidro, formas arredondadas. Muitos prédios hoje em dia apostam na assimetria. coisa que seria herética para os povos da antiguidade. Finalmente não há nenhuma razão para pensarmos que o povo egípcio não seria capaz de construir as pirâmides, assim como os maias também puderam construir as suas pirâmides. Para não deixar de mencionar a fabulosa cidade de Machu Pichu nos andes.

De uma certa maneira somos deuses, somos uma espécie super capaz, e vamos valorizar nossas obras, sim, essas obras são nossas.

domingo, 6 de outubro de 2013

APAE, Funk na Sala de Aula.

Antes de tudo alguns esclarecimentos, fiquei um tempo sem postar por pura falta de inspiração, apesar de saber que vários temas do meu interesse estavam pipocando por aí. Pensei muito se eu faria um post para cada tema. Acho que ainda farei isso. Mas para não defasar muito e todo mundo esquecer desses problemas, resolvi falar pelo menos de dois temas pinçados de vídeos e outros meios de postagens. Mas de uma certa maneira o assunto é o mesmo. Educação.

Fiquei bastante preocupada com o possível fim das APAEs, alegando que é plenamente viável a inclusão dessas crianças atendidas pela entidade nas escolas regulares. Legal, não vou negar que há casos pontuais de sucesso, onde a criança se adaptou bem, mas será que todas estariam aptas ao processo? Ou ainda, os professores estariam preparados para encarar esse desafio? Creio que não.

Qualquer pessoa que tenha visto pelo menos 2 crianças autistas, ou 2 com Síndrome de Down, irá perceber diferenças entre elas, uma vai articular melhor as palavras. Outra pode levar anos até aprender a falar. Não seria exagero afirmar que não existem duas crianças portadoras da mesma síndrome iguais, idênticas nos detalhes mais sutis. Isso para ficarmos nas nomenclaturas mais conhecidas. Nesse sentido uma escola especializada não é chamada assim sem razão. Há professores especializados, que a meu ver são movidos por uma vocação pedagógica a parte. Um corpo de profissionais de apoio extra pedagógicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas. Todos qualificados para aproveitar o que essas crianças têm de melhor. Assim elas poderão ser incluídas no mercado de trabalho. É o que venho chamando de verdadeira inclusão. 

A escola será sempre uma etapa temporária na vida de todos, é lá que temos a oportunidade de experimentar viver numa sociedade que não seja a nossa família. A verdadeira batalha começa depois dela, onde alguns entrarão na universidade, outros resolvem que vão começar a trabalhar, outros decidem dar um tempo. É pra essa vida que essas crianças especiais devem estar preparadas. Com seus talentos desenvolvidos.

Volto a repetir que não vejo problemas que algumas crianças estudem em escolas regulares, algumas realmente estão plenamente aptas para isso. Temple Grandin é uma bióloga reconhecida, estuda animais, e é portadora de Síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo. Exemplo de profissional bem sucedida. 
Quem quiser mais informações sobre ela, leia Um Antropólogo em Marte do Oliver Sacks, há um capítulo sobre a vida dela e suas ideias. Alias nesse livro ele também conta a história de uma família de 6 filhos e todos autistas, nenhum com mesmo grau de severidade, todos bastante diferentes entre si. Lógico que as demandas de cada um serão diferentes.

Veja que ficamos apenas nas duas causas mais conhecidas de atraso no desenvolvimento, há muitas outras. Dezenas delas, pelo menos as que eu conheço, apenas como curiosa do assunto. Quem é da área médica pode chegar a centenas. Então, mesmo que algumas dessas crianças possam estudar normalmente como outras crianças, há outras que necessitam mesmo de atenção especializada, nesse caso as duas opções devem estar disponíveis.


                                                                       ...

Passeando pela internet dou de cara com um vídeo de um trabalho escolar, nesse vídeo 4 garotas dançam funk de sainha bem curta, mostrando que havia por debaixo das saias. Sim, isso era um trabalho de escola, não faço a menor ideia de que matéria, mas é nesse sentido que aqui também defendo que inclusão tem limites. 

Quando estudei música na faculdade ouvia coisas sobre não desvalorizar os gostos musicais dos alunos, se era funk, então seria a partir dele que eu teria que começar o processo de musicalização, mas se a ideia ficasse apenas em mostrar o ritmo, colocar as crianças para batucar e cantar, legal. Mas o que me incomodava era o fato que os professores nunca mostravam como fazer uma transição para outros gêneros e estilos, aí que começam os problemas. Acho que o papel do professor é ampliar os horizontes, pensar que eles estão preparando pessoas para o futuro do país. Interessante que o queridinho desses profissionais, Paulo Freire, nunca disse que não se deve ensinar ciência de verdade, ou cultura universal, ele apenas dizia que o conhecimento deve partir de algo que o aluno já conheça. Ele não era muito afeito a pensar os alunos como tábulas rasas, que sempre havia um ponto de partida. Mas o objetivo era sempre chegar a uma mentalidade epistemológica. Qualquer dúvida ler Pedagogia da Autonomia do autor. 

Desconfio que esses professores pegam Paulo Freire e mutilam mais da metade do texto. Acham legal a parte que dá menos trabalho, que é colocar as meninas mostrando a bunda na sala de aula, pra depois dizer "olha como sou uma professora legal, eu valorizo o que meus alunos sabem fazer", mas partir desse ponto e falar de arte europeia, oriental, nem pensar, né? Ou nesse caso de um professor de Matemática poderia ficar apenas nas continhas que possam ser feitas com ábaco? 

Isso tudo me leva a pensar que se uma criança com atraso cognitivo severo conseguir estudar nessas escolas públicas, sem problema algum, não é porque ela esta se superando, é porque os professores e demais alunos estão caminhando para trás.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O que é bom dura pouco

Numa manhã de 2007, no Rio de Janeiro, eu tinha uma carteira de documentos velha caindo aos pedaços, mas a usava assim mesmo, era um sábado e eu tinha que estar bem cedo numa região pra lá de distante do Rio de Janeiro, já até esqueci o nome. Pois não faz parte dos famosos cartões postais da cidade. Mas o que interessa é que no momento que peguei a tal carteira pra tirar o dinheiro pra pagar o ônibus, numa das 4 conexões que eu tive que fazer, meu cartão de débito pulou do bolso da carteira onde ele ficava. Só fui perceber o problema quando precisei sacar um dinheiro. Desespero.

Começam os procedimentos típicos desse tipo de coisa, ligar pra bloquear o cartão e solicitar uma nova via, foi aí que descobri que o banco Itaú tinha a disposição um cartão provisório que eu poderia retirar em qualquer agência do banco e usa-lo até chegar o novo cartão. Ótimo, um problema a menos na minha vida. Adorei saber que perder um cartão não era o fim do mundo.

Corta.

Estou em 2013 em São Carlos, SP. Nessa semana, ontem, me vi com meu cartão de débito bloqueado por razões que só Kafka explica. Corri para o banco pra entender o que estaria acontecendo e tentar fazer um desbloqueio ou obter outro desses cartões provisórios. Não foi possível. Fui informada que eu só poderia obter esses serviços na minha agência, detalhe a minha agência continua a mesma no Rio de Janeiro, e fiquei sem entender nada.

Já tive problemas de cartão bloqueado, e consegui desbloquear em agências que não eram a minha agência, quando precisei do cartão provisório também não foi na minha agência que eu peguei esse cartão. Comuniquei isso à gerente, ela disse que há uns 2 anos que não fazem mais isso. Que foi decidido que somente na agência do cliente é possível realizar esses procedimentos.

Por que isso? Resposta: evitar fraudes. Que ótimo. Por causa de uns babacas que fraudam o sistema, uma comodidade, um serviço interessante que um banco oferece ao cliente não existe mais. Agora estou eu aqui tendo que ficar 12 dias até receber meu cartão novo. A única forma que posso retirar dinheiro agora é da maneira antiga. Vou ao banco, entro na fila pra ser atendida por um funcionário, e ele me dá o dinheiro.

Fiquei com muita raiva, esse post é um desabafo contra as muitas coisas erradas feitas por irresponsáveis que resultam na eliminação de serviços interessantes pro consumidor, este que não fez nada de errado.

Obs - O problema foi resolvido, não sem antes ficar um pouco mais estressada, lógico. 

domingo, 23 de junho de 2013

Sobre a Violência nas Manifestações

Não sou do tipo que aprova violência, apesar de ser chegada numa luta de boxe. Ou filmes que não sejam exatamente tranquilos. Claro, que se for possível, fazer manifestação dentro da lei e da ordem (como quer a nossa presidenta, blargh!!). Mas não posso deixar de registrar a minha implicância recém adquirida com a palavra "pacífica".

Ela vem sendo usada ad nauseam pela mídia, em especial a Rede Globo, como valor a ser seguido pelos manifestantes, ao mesmo tempo que não para de mostrar as ações dos vândalos, não sei se interessa saber se são infiltrados, bandidos se aproveitando, mas as manifestações são públicas. Temos que ter em mente que a partir de um determinado número de pessoas é impossível controlar, ou mesmo evitar a violência. Volto a repetir, não sou a favor de depredações, embora no íntimo tenha vontade de jogar umas bombas em lugares estratégicos. Entendo que muitos que estão participando não queiram se identificar com a violência. Entendo sinceramente.

Mas o problema é: quem começou tudo isso? Sabemos que viver com salários baixos, péssimas condições de saúde e educação é um tipo de violência enfrentada pelas pessoas. Quando se tenta reclamar de um aumento nas tarifas de transporte público, transporte público este que comete atrocidades com os passageiros, já levei vários tombos em ônibus, já fui até arrastada por um deles, tive que me pendurar na porta. Fora idosos que não conseguem que os motoristas parem pra eles entrarem ou saírem. Vinte centavos pode parecer pouco, mas é muita coisa se levar em conta o quanto já gastei de medicação pra dor nos joelhos depois de viajar assim.

Já estava na hora de se tomar providências. Não só pelos 0,20 cents, mas também por um atendimento precário, quase assassino, dessas empresas. As pessoas foram às ruas, lá enfrentaram um tipo de violência que algumas camadas da população já conhecem há muito tempo. A truculência policial. Acho que é ela que esta cometendo os piores erros nesses eventos. Não sei quanto a vocês, mas pra mim, uma pessoa quebrar um vidro de alguma loja, ou de prédios públicos não chega perto da violência perpetrada contra pessoas pela polícia.

Já vi arruaça em jogos de futebol, já vi pancadaria em shows, e nesses episódios a mídia trata quase como algo que faz parte da festa. Por que essa surpresa toda quando se trata de um manifesto, de um desabafo da população por toda essa violência enfrentada por toda uma vida? Quanto a ação da polícia, já vi a mesma mídia demonizar muito mais quando esta invade uma favela e mata moradores. Já vi muito mais revolta por morte de traficante do que por essas agressões que a polícia vem fazendo por esses dias.

Continuo torcendo que o movimento não perca a força. Espero que não comprem a ideia que a mídia vem tentando fazer da palavra "pacífica", vindo de onde vem, só pode ser por querer que as pessoas enfraqueçam o movimento. Se queremos mudanças, não podemos parecer dóceis demais, isso já fomos por tempo demais.

sábado, 22 de junho de 2013

Manifestos Nos tempos de Internet

Não é de hoje que a internet vem mudando o jeito das pessoas se reunirem em manifestações, isso já aconteceu no mundo árabe, com toda aquela teocracia, não seria diferente quando chegasse a vez do Brasil.

E certamente esses recentes acontecimentos políticos estão na pauta do dia, e ainda não sei se por sorte ou azar, coincide com os eventos da Copa das Confederações. E pela primeira vez temos a experiência de lutar por nossas necessidades, por mudanças políticas e obrigamos a mídia colocar o futebol como um assunto secundário.

Isso é ótimo, afinal não somos pagos para torcer, as contas mensais não são dispensadas durante a realização dos eventos. Não deixamos de ficar doentes, não sabemos quando teremos que ir a um hospital, mesmo quem tem plano de saúde não esta livre de ter que recorrer ao SUS. Pense, em caso de acidente grave, é pra onde levam a vítima numa emergência. Se depois você preferir ir para um hospital particular, ou credenciado pelo seu plano master de saúde, beleza, você é quem sabe.

Quanto às razões pelas quais lutar, ir às ruas, fazer e acontecer, não preciso falar muito sobre elas. Afinal são razões que já estão muito bem difundidas por  todas as redes sociais, jornais, a TV (mesmo com muita má vontade), qualquer pessoa que não esteve em Marte até ontem já sabe. Mas uma coisa que me fez escrever esse post é a nova cara da mobilização. Lembro que tive uma experiência no movimento estudantil, já fui presidente de Centro Acadêmico, diretoria de diretório central da universidade. Foi lá que comecei a perceber que várias pautas estudantis passavam longe daquilo que seria de interesse geral dos estudantes. Isso acontecia basicamente porque quem definia essas pautas não eram estudantes, eram partidos, sim, eles mesmos. Era um recurso pra recrutar possíveis lideranças no meio acadêmico.

Nesse caso, acabei pulando fora e cuidando mais do que deveria fazer na universidade, estudar. Mas fiz esse relato porque lembro de como eram feitas as mobilizações para passeatas e demais atos estudantis, era boca-a-boca, panfletos, era bastante trabalhoso, e geralmente a pauta era pre-definida. Muitas vezes nem eu entendia porque uma estudante, como eu, tinha que lutar por aquilo que eu estava chamando outras pessoas pra comparecer na passeata. Complicado.

É nesse ponto que a internet parece dividir e ao mesmo tempo unir pessoas, quando se tem perfil em redes sociais, mesmo que se coloque pessoas de várias tendências, alguns interesses e afinidades intelectuais entram em consonância. Troca-se uma ideia aqui, outra ali, compartilha-se links, estes links levam a outros, e toma-se conhecimento de que na praça tal haverá uma manifestação. Qual o tema? Ir contra uma PEC qualquer, afinal conheço 3, e todas acredito serem dignas de manifestações contrárias. Você não sabe do que essa PEC trata? Simples, acessa o Google e veja páginas e páginas com o conteúdo discutido ali. Agora você descobre que ela vai afetar as instituições democráticas, você se revolta e resolve postar no seu perfil, no seu blog, fazer vídeo no YouTube, e da mesma maneira outras pessoas terão acesso ao seu trabalho, e também fará as mesmas coisas. Nisso há uma incubação de ideias que serão sempre discutidas entre seus semelhantes, pessoas que moram na sua cidade ou não. É claro que alguma hora o movimento ia vazar do sofá para as ruas. É claro que quem esta participando mais efetivamente dessas manifestações deve saber como isso funciona. Mas parece que há uma turma que alem de não estar compreendendo, também não esta engolindo muito bem o fato.

São justamente os mesmos que sempre estiveram por trás das passeatas de outrora- os partidos. Os militantes que sempre careceram de um comando central, que sempre necessitaram que a pauta fosse definida de cima pra baixo, sempre respeitando uma hierarquia. Não estou aqui querendo fazer campanha apartidária, nem anti-partidária, apesar de eu não pertencer a partido nenhum, e não esteja me sentindo representada ( a exemplo de muita gente) por partido nenhum. Mas essas manifestações são pautadas simplesmente nas causas compartilhadas em redes sociais, fóruns, blogs, e fazem parte da legítima indignação popular. Nessas horas pra que serve um partido? Pra lhe dizer com que você deve ficar indignado? Não, definitivamente não. Partidos têm seu espaço, provavelmente não deixará de ter, afinal quem quiser exercer algum cargo aqui deverá pertencer a um. E uma vez que se elege alguém pelo partido X, este deve cumprir suas funções. E assim a coisa anda. Mas não venha me dizer que minhas preocupações políticas, sociais, filosóficas, ideológicas e intelectuais devam ser pautadas por algum partido, mesmo que eu seja uma eleitora de carteirinha desse partido X. Nunca aceitei sequer que meu conhecimento fosse pautado pelo conteúdo escolar, sempre achei a escola muito pouco pra mim. Sempre quis muito mais.

Essas manifestações provam que as pessoas sabem o que querem, sabem do que precisam, e provaram que podem se unir em torno disso tudo.

Nesse ponto que podemos inserir a dificuldade de certos intelectuais, políticos, e demais lideranças no fato de descobrir e não aceitar muito bem que eles não foram necessários. Na realidade quando se vê pessoas, como o Jabor, desqualificando e se retratando depois, o movimento, só posso entender que: eles estão agindo como aquele pai que descobre que o filho cresceu ao mesmo tempo que descobre que será avô. A mídia tradicional não esta digerindo que não tiveram o menor controle sobre as manifestações, não houve atores globais num comercial super produzido chamando a turma pra ir às ruas, os famosos que compareceram, o fizeram porque também chegaram lá como todo mundo, e pelos mesmos motivos. A mídia tradicional certamente gostaria de falar do clima festivo da Copa das Confederações e esta tendo que gastar um tempo enorme pra cobrir os protestos.

Só posso parabenizar as pessoas pela resistência, pela criatividade, com slogans geniais, e esperar que nada disso se dissolva tão cedo, pelo menos até que se derrube todas as pedras do dominó desse jogo.

P.S Depois eu falo sobre a violência e a abordagem da mídia, mas meu próximo post será sobre listas negras geradas nesse momento.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

O Velho




         Meu encontro com o velho deu-se no centro do Rio. No meio daquele vai e vem de carros e pessoas. O centro de uma cidade grande costuma guardar características parecidas com o centro de outras cidades deste porte. Pessoas de terno e gravata entrando e saindo de prédios comerciais. Centros empresariais situados convenientemente ali. Há também mendigos, camelôs e algumas figuras pitorescas que já caíram no lugar comum.
       
          O velho parecia não fazer sentido naquele lugar. Estava sempre vestido com uma combinação de azul claro e cinza nas roupas bem passadas, diria ate que foram engomadas também. Estava sempre sentado no mesmo degrau da escadaria da mesma igreja. Não sei se ele ficava lá o tempo todo. Se saía para um cafezinho, mas quando eu ia ao centro do Rio, seja para entregar um currículo numas das inúmeras empresas de RH, seja pra visitar algum museu, ele sempre estava ali. Não podia ser um mendigo. Os trajes eram sempre da mesma cor, mas nunca os mesmos, o cabelo branco estava sempre limpo e bem cortado. Minha curiosidade passou a me dominar, no inicio passava ali apenas por necessidade, não gosto muito de sair de casa sem necessidade. Depois passava uma vez por semana e ficava 15 minutos ao lado dele. Esperava desfazer um mistério.

           Às vezes eu sentia que ele ia puxar assunto, mas apenas olhava, levantava uma das sobrancelhas, sorria e voltava a mesma expressão contemplativa de sempre. Passaram-se meses sem que nada acontecesse. Ou melhor, aconteceu, agora era eu que fazia desse comportamento um habito. Agora eu também chegava à mesma escadaria da mesma igreja e sentava ao lado do mesmo velho. Mesmo em dias de chuva.

       - Olha!
       - Veja aquela nuvem.
       - que tem essa nuvem?
       - O que ela lhe parece?
       - Não sei. Espera! O senhor falou comigo.
       - Sim, falei mocinha!
       - Pensei que o senhor não falava.
       - Pois então.

         Não passamos disso, na verdade nossos encontros passaram a ter breves diálogos, nada muito profundo. Fiquei impressionada de ele saber o que era pareidolia. Falávamos sobre isso nos momentos que discutíamos as formas das nuvens.
 
        Algumas formas eram verdadeiramente nítidas. Cheguei a ver camelos, ovelhas, gatos, cachorros. Ele costumava ter mais facilidade para identificar formas parecidas com comidas. Uma hora era pizza, outra, hambúrguer.

       Quando não havia nuvens ficávamos mudos. Ele nunca me perguntou nada sobre mim. Eu, por consideração ou reciprocidade cheguei a conclusão que minha curiosidade deveria calar.
     
        Um dia ele não apareceu. Passou uma semana... Nada!
     - Ele morreu.
     
   Era um vendedor ambulante.
   
      - Como você sabe disso?
      - Eu não sei. Eu vi.
      - Então me diz como foi.
      - Eu não posso. Um dia você vai saber. Assim como ele soube de tudo. Ele sabia de tudo.
      - Ele ficou sabendo de tudo sentado aqui?
      - Sim, você também vai saber.


     Assim eu fiquei. Agora sou eu que tenho que saber. Mas ainda não sei de nada.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Olá meus caros.

Esse post tem por objetivo apresentar o blog. E ao mesmo tempo testar as ferramentas e o visual. Mas quanto ao blog, o objetivo dele será tratar de assuntos ligados a livros, ciência, política, filosofia, crônicas, religião, por que não? Ou seja, qualquer assunto que esteja em pauta no mundo e sobre o qual eu goste de escrever sobre.

Estarei aberta a sugestões, mas não reclame, pois o blog pretende-se cético. Posso não ir nas direções esperadas. 

Até breve.