quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O Ateu Virtuoso: outro comentário de livro.

Antes de falar sobre o livro dessa semana, devo falar um pouco sobre minha relação com livros. Uma característica minha é a necessidade de não ficar em apenas um livro do autor, principalmente quando eu gosto desse primeiro contato com a escrita dele. Foi assim com Nietzsche, com Voltaire, Bertrand Russell, Schopenhauer, Kafka, Camus e muitos outros. Paulo Jonas de Lima Piva agradou-me muito com o Ateísmo e Revolta, o qual falei no post anterior. Nesse livro ele chegou a citar um outro livro escrito por ele. E acabei encontrando esse livro a venda numa livraria da UERJ. Sempre que vou a uma universidade procuro saber se há livrarias, alias adoro livrarias. 

O Ateu Virtuoso, se eu não estou enganada, foi adaptado da tese de doutorado do autor. Ele tem como subtítulo Materialismo e Moral em Diderot, isso significa que o livro alem de discorrer sobre a vida e obra de Diderot, ele trava uma discussão sobre a necessidade (no caso não-necessidade) de Deus na construção da moralidade.

Para o autor, Diderot visita esse tema de maneira sistemática em sua obra. Alias o tema da moralidade parece ser muito caro ao pensador francês. A exemplo do Ateísmo e Revolta há uma análise dos vários aspectos da obra de Diderot, assim como uma descrição muito interessante do reflexo que sua obra e suas ideias influenciaram o Iluminismo francês, a atuação dele como um enciclopedista, afinal é basicamente impossível falar de Iluminismo sem mencionar a Enciclopédia e os enciclopedistas. Ele volta a falar em certos momentos de Jean Meslier, fala dos libertinos. Vale lembrar que o termo libertino nessa época não tinha conotações exclusivamente sexuais. O conceito da palavra estendia-se a toda liberdade irrestrita de pensamento. Nesse sentido os pensadores ateus eram também chamados de libertinos. Afinal era uma forma de pensar livre, e desafiava o status quo.

Depois dessas considerações históricas e filosóficas sobre Diderot, segue uma análise de cada livro escrito por ele, e como ele trata o materialismo e a moral neles. Como esses livros, alguns em forma de ensaio, outros em forma de romances, dialogam com obras de outros autores da época e até mesmo anteriores. Alguns são de temática sexual. Outros falam sobre religião, mas mostrando que nesse contexto a moralidade é bastante questionável. Compara alguns romances desses com a obra do Marquês de Sade. Dá muita vontade de sair comprando tudo que é livro de Diderot.

Ele também menciona a relação de Diderot com Catarina II da Rússia, nesse aspecto o livro chama atenção pro fato de filósofos eventualmente aconselharem figuras despóticas, como foi o caso de Aristóteles e Alexandre o Grande, e Sêneca com Nero. Diderot a princípio era contra, pois achava que filósofos não tinham que se meter, mas depois mudou de ideia, acreditando que assim poderia fazer que essas pessoas fossem mais esclarecidas. 

São muitos detalhes levantados nesse livro, não é possível comentar todos os aspectos nesse post. Afinal isso não se propõe a ser um mega ensaio, o objetivo é falar sobre um livro que gostei, e ajudar a ampliar a bibliografia sobre ateísmo. Esse livro vale muito a pena. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ateísmo e Revolta: um pequeno comentário (espero que dessa vez sem bug)

Dentro da crescente bibliografia sobre ateísmo, um livro chamou-me bastante atenção. Não é dos livros mais citados e comentados sobre o tema, talvez por isso resolvi escrever algumas linhas sobre. Eu o encontrei por acaso numa estante de Filosofia na livraria Prefácio no Rio de Janeiro. O título é justamente  Ateísmo e Revolta, o autor é Paulo Jonas de Lima Piva. Pode-se encontrar informações sobre ele nesse link(aqui).

O livro fala sobre um personagem da história do ateísmo bastante improvável. Um padre, e sim, esse padre era ateu. Trata-se de Jean Meslier. Confesso que adorei saber que esse homem existiu.          Pra falar a verdade, se não fossem algumas informações contidas na capa e na orelha do livro, não seria pelo título que eu resolvi compra-lo. Mas já na capa esta escrito que o livro fala do padre ateu. E como ele influenciou a noção atual do ateísmo.


Jean Meslier nasceu em Mazerny em 15 de junho de 1664 e morreu em Étrépigny em 17 de junho 1729, estes dados mostram que ele esta inserido no contexto do Iluminismo francês.            Ele levou uma vida normal de sacerdote católico numa aldeia francesa. Cumprindo com seus deveres, realizava missas, pregava como todo padre. Mas na intimidade escrevia um diário, nesse diário ele falava abertamente sobre sua descrença, escrevia coisas sobre Deus e Jesus que fariam muitos ateus de hoje corar. Falava da repulsa que ele sentia do clero e da aristocracia. O que também o aproxima politicamente do comunismo e do anarquismo, dependendo da fonte que se lê a respeito desse padre. Este diário tinha por objetivo pedir desculpas póstumas aos frequentadores de sua igreja por ter mentido sobre a existência de Deus. Tudo que ele proferia seria mentira. E mostrava argumentos fortes contra a existência desse Deus. Um dos primeiros filósofos a ter acesso a esses manuscritos foi justamente Voltaire, mas ao editar o diário, que foi publicado com o nome de Testamento de um Padre de Aldeia, o fez disfarçando dando a impressão de que Meslier seria um deísta aos moldes de Spinoza. Mas ainda bem que a História mostrou a verdade desse caso.

Em Ateísmo e Revolta, Paulo Jonas destrincha cada detalhe desse homem, mostra os tais argumentos usados por Meslier para demolir a existência de Deus. Mostra as influências filosóficas desse pensador inusitado. Mostra como ele era original em suas ideias. E como ele influenciou pensadores até mesmo do porte do Diderot. E não esquecendo de Voltaire também. A ponto de uma frase super famosa que costuma ser atribuída ou a Diderot ou a Voltaire, na realidade ser de autoria do padre.


A frase é essa:

‘Eu gostaria, e este será o último e o mais ardente dos meus desejos, eu gostaria que o último rei fosse estrangulado com as tripas do último padre’

Na realidade Diderot a usou com uma leve mudança, e foi assim que a frase chegou até os dias de hoje.
 o homem só será livre quando o último rei for estrangulado com as entranhas do último padre”



O livro Ateísmo e Revolta provavelmente não é tão fácil de ler, ele segue um padrão mais acadêmico no texto, mas ao mesmo tempo o autor tem tanto carinho pelo personagem, que ele prima pela clareza do texto, não permite que a formalidade ofusque o brilho do personagem comentado. O livro também compara autores contemporâneos e levemente posteriores que também contribuíram para a História do ateísmo. Barão d' Hollbach,  Marquês de Sade, Feuerbach e muitos outros.


Meslier também é citado no excelente livro Tratado de Ateologia de Michel Onfray. Posso vir a escrever sobre esse outro livro numa outra oportunidade.


Espero ter contribuído de alguma forma com esse pequeno texto.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

O Cartório do Kafka.

Apesar de não ter criado esse blog para falar de assuntos pessoais, já é a segunda que o faço. Mas acho importante descrever o que se passou nesse mês. O assunto anterior foi um problema com o banco, agora o problema foi um cartório. Creio que é interessante compartilhar isso, pois se alguém se identificar com o problema poderá exercer sua crítica também.

O problema começou quando minha mãe me liga da cidade onde eu morava antes de vir para São Carlos (SP). Eu morava numa casa que esta sendo utilizada pela minha irmã como consultório. Então, o problema foi a conta astronômica de luz do imóvel. Haveria a necessidade de parcelar, ou entrar com um processo por grande possibilidade de contagem errada do relógio. A conta de luz ainda esta no meu nome, minha irmã a usuária não poderia resolver isso sem uma procuração minha. Então fui ao cartório providenciar o tal documento. Isso foi há um pouco mais de 1 mês. Só hoje pude pegar a procuração no cartório.

Já morei em outras cidades antes dessa, já tive que fazer procuração por um motivo ou outro, e geralmente em 1 ou 2 dias eu recebia o documento e estava tudo certo. Nunca vi um caso de demora como esse. O atraso segundo o rapaz que me atendeu, recolheu as informações e redigiu a procuração, foi por causa do tabelião que tinha que conferir a procuração, e pelo volume de papel na mesa dele a minha tinha que esperar a vez. Depois da liberação do tabelião vinha a etapa que eu tinha que assinar o documento. Cheguei no cartório na sexta-feira da semana passada, e tive que esperar o rapaz ler as quatro páginas do referido documento. Sim, ele leu na íntegra. Depois seguiu-se quase 1 hora do rapaz entrando e saindo de salas até imprimir a procuração num papel oficial timbrado. Até que eu pudesse assinar e pagar pela procuração, o custo ficou em 154,00 reais. Não sei se em outras cidades o preço é esse mesmo. Mas achei caro. Problema resolvido? Não, claro que não. O documento teria que voltar ao tabelião para ele assinar, havia a promessa da liberação no mesmo dia, mas não foi isso que aconteceu. Enquanto isso minha mãe pressionando, e eu pressionando o cartório. Mas uma vez Kafka entra na minha vida.

Nesse processo todo descobri que apenas 2 cartórios atuam nessa área na cidade. Há um terceiro que atua apenas em registro de imóveis, pelo que o taxista que me levou ao cartório me falou a coisa parece uma máfia, e como são poucos cartórios na cidade os funcionários abusam muito do poder que têm e fazem as pessoas esperarem muito mesmo.

Finalmente a procuração já esta nas minhas mãos ainda tenho que enviar pelo Sedex. Nisso a luz lá já foi cortada. Por via das dúvidas pedi pra fazer uma procuração mais abrangente possível, espero não ter que fazer outra tão cedo enquanto estiver morando aqui.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Pirâmides: ou como deixei de acreditar em aliens.

Uma das coisas que mais me fascinavam na minha adolescência eram as pirâmides de Egito, as histórias dos deuses, a ideia de que uma mulher chegou ao poder por ali. Eram tantas referências culturais, alem do mais os deuses eram retratados de maneira bastante estilosa. Até que comecei a ouvir aqui e ali hipóteses de que alienígenas estiveram por lá e deixaram aquilo tudo como legado.

Eu, ainda adolescente, não era difícil de se deixar seduzir por essa ideia, cheguei a ler trechos de 2 livros do Erich von Daniken, mas o livro dessa época que me pegou pelo pé foi um chamado As profecias da Pirâmide de Max Toth, quase não ouço outras pessoas falarem dele.

Neste livro há uma série de tentativas de associar passagens da Grande Pirâmide e suas inscrições com passagens bíblicas, demonstrando que era ali que estava a origem de todo conhecimento humano. Em outras passagens do livro menciona Atlântida como algo que sem sombra de dúvidas existiu. Passei anos pensando nessas ideias como fatos incontestáveis da história. Atlântida existiu, o Egito colonizado por ETs, e as pirâmides como fontes primárias da Bíblia.

Até que depois de algum tempo fui tornando-me uma pessoa mais cética, não necessariamente sobre esse assunto, muitos outros assuntos foram tomando conta da minha agenda intelectual, como Ciências Ocultas, cheguei a frequentar a Ordem Rosacruz, nesta ordem também se falava muito sobre o Egito, sobretudo Akenathon, suposto fundador da Ordem. Mas comecei a perceber que minha situação ali era o começo do meu processo de descobrir-me ateia. Afinal eu estava buscando respostas em lugares diferentes das religiõs tradicionais. Uma ordem secreta é tentador nesse sentido.

Nessa época eu já havia me separado da minha família, estava morando num pensionato de freiras, imagina a situação? Ainda bem que essas freiras tinham uma postura "muderninha", elas apenas gerenciavam aquele espaço que era voltado a alojar moças distantes das suas famílias. Não se metiam na vida das pensionistas.
Lá fiz um monte de amigas, afinal 70 mulheres morando juntas, rolava muito debate, dependendo da área de estudos de cada uma havia sempre uma contribuição de acordo. A sala de TV era essa arena onde a maior parte das conversas se davam. Alem disso tudo, rolava muito intercâmbio de livros entre nós. Até que um desses livros emprestados caiu nas minhas mãos. O livro era Livro de Ouro dos Grandes Mistérios da Antiguidade, Peter James e Nick Thorpe. Nesse livro os autores falam de vários temas, incluindo a possibilidade de personagens como Rei Arthur e Robin Hood terem se baseado em figuras reais e tudo mais.

Como não poderia deixar de faltar, sim, temos pirâmides nesse livro, foi aí que li pela primeira vez uma explicação bastante humana, na escola não conta muito, pois lá eles não entram nos detalhes da engenharia e arquitetura investidas ali. Os autores demonstram a partir de dados como, datação das pedras, análises geológicas, e outros dados que não lembro muto bem que sim, os próprios egípcios construíram aquilo.
Nesse livro os autores aproveitam para atacar as ideias de Erich von Daniken, mostrando que nenhuma comunidade científica o levava a sério com essa história de ETs. Inclusive a explicação que eles dão pro sucesso dessas hipóteses alienígenas na Europa, passa por um conceito racista, afinal é fácil pensar que um povo antigo da África não teria condições de construir nada alem de uma tapera.

Interessante pensar que essa explicação longe de tirar o brilho do povo antigo, acho que aos meus olhos a grandeza daquela civilização só aumentou. Depois fiquei sabendo que o hábito de embalsamar os corpos os dotaram de conhecimentos anatômicos bem abrangentes.

Mas para aqueles que insistem na explicação alienígena, eu só acho que um povo com avanço tecnológico suficiente pra chegar até aqui, provavelmente faria uma construção mais prática, se formos observar as construções modernas, a tendência é cada vez os materiais ficarem mais leves, muito uso de vidro, formas arredondadas. Muitos prédios hoje em dia apostam na assimetria. coisa que seria herética para os povos da antiguidade. Finalmente não há nenhuma razão para pensarmos que o povo egípcio não seria capaz de construir as pirâmides, assim como os maias também puderam construir as suas pirâmides. Para não deixar de mencionar a fabulosa cidade de Machu Pichu nos andes.

De uma certa maneira somos deuses, somos uma espécie super capaz, e vamos valorizar nossas obras, sim, essas obras são nossas.