sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Ateísmo e Revolta: um pequeno comentário (espero que dessa vez sem bug)

Dentro da crescente bibliografia sobre ateísmo, um livro chamou-me bastante atenção. Não é dos livros mais citados e comentados sobre o tema, talvez por isso resolvi escrever algumas linhas sobre. Eu o encontrei por acaso numa estante de Filosofia na livraria Prefácio no Rio de Janeiro. O título é justamente  Ateísmo e Revolta, o autor é Paulo Jonas de Lima Piva. Pode-se encontrar informações sobre ele nesse link(aqui).

O livro fala sobre um personagem da história do ateísmo bastante improvável. Um padre, e sim, esse padre era ateu. Trata-se de Jean Meslier. Confesso que adorei saber que esse homem existiu.          Pra falar a verdade, se não fossem algumas informações contidas na capa e na orelha do livro, não seria pelo título que eu resolvi compra-lo. Mas já na capa esta escrito que o livro fala do padre ateu. E como ele influenciou a noção atual do ateísmo.


Jean Meslier nasceu em Mazerny em 15 de junho de 1664 e morreu em Étrépigny em 17 de junho 1729, estes dados mostram que ele esta inserido no contexto do Iluminismo francês.            Ele levou uma vida normal de sacerdote católico numa aldeia francesa. Cumprindo com seus deveres, realizava missas, pregava como todo padre. Mas na intimidade escrevia um diário, nesse diário ele falava abertamente sobre sua descrença, escrevia coisas sobre Deus e Jesus que fariam muitos ateus de hoje corar. Falava da repulsa que ele sentia do clero e da aristocracia. O que também o aproxima politicamente do comunismo e do anarquismo, dependendo da fonte que se lê a respeito desse padre. Este diário tinha por objetivo pedir desculpas póstumas aos frequentadores de sua igreja por ter mentido sobre a existência de Deus. Tudo que ele proferia seria mentira. E mostrava argumentos fortes contra a existência desse Deus. Um dos primeiros filósofos a ter acesso a esses manuscritos foi justamente Voltaire, mas ao editar o diário, que foi publicado com o nome de Testamento de um Padre de Aldeia, o fez disfarçando dando a impressão de que Meslier seria um deísta aos moldes de Spinoza. Mas ainda bem que a História mostrou a verdade desse caso.

Em Ateísmo e Revolta, Paulo Jonas destrincha cada detalhe desse homem, mostra os tais argumentos usados por Meslier para demolir a existência de Deus. Mostra as influências filosóficas desse pensador inusitado. Mostra como ele era original em suas ideias. E como ele influenciou pensadores até mesmo do porte do Diderot. E não esquecendo de Voltaire também. A ponto de uma frase super famosa que costuma ser atribuída ou a Diderot ou a Voltaire, na realidade ser de autoria do padre.


A frase é essa:

‘Eu gostaria, e este será o último e o mais ardente dos meus desejos, eu gostaria que o último rei fosse estrangulado com as tripas do último padre’

Na realidade Diderot a usou com uma leve mudança, e foi assim que a frase chegou até os dias de hoje.
 o homem só será livre quando o último rei for estrangulado com as entranhas do último padre”



O livro Ateísmo e Revolta provavelmente não é tão fácil de ler, ele segue um padrão mais acadêmico no texto, mas ao mesmo tempo o autor tem tanto carinho pelo personagem, que ele prima pela clareza do texto, não permite que a formalidade ofusque o brilho do personagem comentado. O livro também compara autores contemporâneos e levemente posteriores que também contribuíram para a História do ateísmo. Barão d' Hollbach,  Marquês de Sade, Feuerbach e muitos outros.


Meslier também é citado no excelente livro Tratado de Ateologia de Michel Onfray. Posso vir a escrever sobre esse outro livro numa outra oportunidade.


Espero ter contribuído de alguma forma com esse pequeno texto.

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