domingo, 6 de outubro de 2013

APAE, Funk na Sala de Aula.

Antes de tudo alguns esclarecimentos, fiquei um tempo sem postar por pura falta de inspiração, apesar de saber que vários temas do meu interesse estavam pipocando por aí. Pensei muito se eu faria um post para cada tema. Acho que ainda farei isso. Mas para não defasar muito e todo mundo esquecer desses problemas, resolvi falar pelo menos de dois temas pinçados de vídeos e outros meios de postagens. Mas de uma certa maneira o assunto é o mesmo. Educação.

Fiquei bastante preocupada com o possível fim das APAEs, alegando que é plenamente viável a inclusão dessas crianças atendidas pela entidade nas escolas regulares. Legal, não vou negar que há casos pontuais de sucesso, onde a criança se adaptou bem, mas será que todas estariam aptas ao processo? Ou ainda, os professores estariam preparados para encarar esse desafio? Creio que não.

Qualquer pessoa que tenha visto pelo menos 2 crianças autistas, ou 2 com Síndrome de Down, irá perceber diferenças entre elas, uma vai articular melhor as palavras. Outra pode levar anos até aprender a falar. Não seria exagero afirmar que não existem duas crianças portadoras da mesma síndrome iguais, idênticas nos detalhes mais sutis. Isso para ficarmos nas nomenclaturas mais conhecidas. Nesse sentido uma escola especializada não é chamada assim sem razão. Há professores especializados, que a meu ver são movidos por uma vocação pedagógica a parte. Um corpo de profissionais de apoio extra pedagógicos, psicólogos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas. Todos qualificados para aproveitar o que essas crianças têm de melhor. Assim elas poderão ser incluídas no mercado de trabalho. É o que venho chamando de verdadeira inclusão. 

A escola será sempre uma etapa temporária na vida de todos, é lá que temos a oportunidade de experimentar viver numa sociedade que não seja a nossa família. A verdadeira batalha começa depois dela, onde alguns entrarão na universidade, outros resolvem que vão começar a trabalhar, outros decidem dar um tempo. É pra essa vida que essas crianças especiais devem estar preparadas. Com seus talentos desenvolvidos.

Volto a repetir que não vejo problemas que algumas crianças estudem em escolas regulares, algumas realmente estão plenamente aptas para isso. Temple Grandin é uma bióloga reconhecida, estuda animais, e é portadora de Síndrome de Asperger, uma forma leve de autismo. Exemplo de profissional bem sucedida. 
Quem quiser mais informações sobre ela, leia Um Antropólogo em Marte do Oliver Sacks, há um capítulo sobre a vida dela e suas ideias. Alias nesse livro ele também conta a história de uma família de 6 filhos e todos autistas, nenhum com mesmo grau de severidade, todos bastante diferentes entre si. Lógico que as demandas de cada um serão diferentes.

Veja que ficamos apenas nas duas causas mais conhecidas de atraso no desenvolvimento, há muitas outras. Dezenas delas, pelo menos as que eu conheço, apenas como curiosa do assunto. Quem é da área médica pode chegar a centenas. Então, mesmo que algumas dessas crianças possam estudar normalmente como outras crianças, há outras que necessitam mesmo de atenção especializada, nesse caso as duas opções devem estar disponíveis.


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Passeando pela internet dou de cara com um vídeo de um trabalho escolar, nesse vídeo 4 garotas dançam funk de sainha bem curta, mostrando que havia por debaixo das saias. Sim, isso era um trabalho de escola, não faço a menor ideia de que matéria, mas é nesse sentido que aqui também defendo que inclusão tem limites. 

Quando estudei música na faculdade ouvia coisas sobre não desvalorizar os gostos musicais dos alunos, se era funk, então seria a partir dele que eu teria que começar o processo de musicalização, mas se a ideia ficasse apenas em mostrar o ritmo, colocar as crianças para batucar e cantar, legal. Mas o que me incomodava era o fato que os professores nunca mostravam como fazer uma transição para outros gêneros e estilos, aí que começam os problemas. Acho que o papel do professor é ampliar os horizontes, pensar que eles estão preparando pessoas para o futuro do país. Interessante que o queridinho desses profissionais, Paulo Freire, nunca disse que não se deve ensinar ciência de verdade, ou cultura universal, ele apenas dizia que o conhecimento deve partir de algo que o aluno já conheça. Ele não era muito afeito a pensar os alunos como tábulas rasas, que sempre havia um ponto de partida. Mas o objetivo era sempre chegar a uma mentalidade epistemológica. Qualquer dúvida ler Pedagogia da Autonomia do autor. 

Desconfio que esses professores pegam Paulo Freire e mutilam mais da metade do texto. Acham legal a parte que dá menos trabalho, que é colocar as meninas mostrando a bunda na sala de aula, pra depois dizer "olha como sou uma professora legal, eu valorizo o que meus alunos sabem fazer", mas partir desse ponto e falar de arte europeia, oriental, nem pensar, né? Ou nesse caso de um professor de Matemática poderia ficar apenas nas continhas que possam ser feitas com ábaco? 

Isso tudo me leva a pensar que se uma criança com atraso cognitivo severo conseguir estudar nessas escolas públicas, sem problema algum, não é porque ela esta se superando, é porque os professores e demais alunos estão caminhando para trás.