domingo, 6 de abril de 2014

Personagens que Jamais Gostaria de Encontrar - um contraponto do outro post.

Na postagem anterior mencionei os personagens que gostaria de passar o dia, mas depois fiquei pensando que há personagens que definitivamente detestaria encontrar, se encontrasse provavelmente o resultado seria o desastre. Vou seguir o mesmo esquema de começar pela minha infância e depois vou seguindo até hoje.

Na minha infância eu li Pollyanna, sim, eu li. Confesso que naquela época até que gostei, mas depois de algumas reflexões, alguns acontecimentos desagradáveis depois, percebi que o tal "jogo do contente" era a última coisa que eu precisava como consolo, que toda vez que alguém chegava com uma lógica parecida comigo, eu tinha vontade de socar essa pessoa na cara, afinal, quando estamos desesperados por algum motivo saber que há pessoas que estão piores não ajuda, ainda mais porque eu ficava com a impressão que minha interlocutora não estava assim tão preocupada com o meu problema, já que se ela tinha cabeça pra pensar em outros supostos sofredores, que supostamente estavam piores que eu, então eu não tinha importância nenhuma pra ela, então ela que fosse consolar essas pessoas mas sofridas que eu e me deixasse em paz. Outro dado sobre a Pollyanna, é que ela esquecia seus próprios problemas em função dessas mesmas pessoas piores que ela, caraca, na real essa garota não se dá a menor importância, ela tem sérios problemas de negação, o fato de pessoas sofrerem mais que ela, ou sofrerem mais que eu, não significa que meu sofrimento ou o dela não tenha importância, nem mereça atenção. E quando tudo parecia que isso ia ficar somente na minha infância, eis que me aparece o Pangloss.

O Pangloss para mim é uma versão adulta e mais filosófica da Pollyanna, ele é uma espécie de mestre e companheiro de aventuras de Cândido, do livro clássico do Voltaire. Enquanto eu lia esse livro, não via a hora que o Pangloss caísse na real, já que toda a aventura estava marcada por um monte de desgraça. Isso complica muito. Já que nem sempre manter o otimismo cego ajuda, às vezes uma pessoa que assume que a situação esta complicada enxerga melhor as saídas. Se é que existe saída. Mas ainda bem que diferente da Eleanor H. Porter, a autora da Pollyanna, Voltaire é um gênio literário e filosófico, o que fez dessa abordagem do otimismo uma leitura muito, mas muito mais interessante mesmo. Os momentos de ironia no texto geniais, adoro esse livro. Completamente diferente da pieguice emética da Pollyana. No fundo acho os otimistas demais muito chatos.

Uma personagem recente que odiaria encontrar é a Dolores Umbridge, que foi a professora de Defesa contra as Artes das Trevas de Harry Potter, acho que de todos os vilões ela é a única personagem que realmente consegui sentir repulsa. Diferente de vários vilões clássicos da Literatura, que costumam ter um certo charme, um carisma, a Dolores não é nada disso. Ela é chata, não dá pra sentir a menor empatia com ela. Falo empatia mesmo. Vejamos o Voldemort, mesmo com toda maldade, somos tentados a entender o que se passou com ele, sabemos que a vilania dele tem uma causa, é um personagem psicologicamente complexo, ele não é chato, há momentos que dá até pra entender o por quê dele ser do jeito que é. Mas a Dolores, francamente não dá. Ela é má por pura opção. E parece que não faz a menor questão de ser diferente. Há uma coisa que já faz da J. K Rowling uma escritora histórica, ela conseguiu criar a vilã mais desagradável de todos os tempos. Nunca tive tantos problemas com os vilões, mas essa é a mais desagradável de todas. Alias os vilões costumam ser até bastante sedutores. Personagens interessantes mesmo.

Há um personagem no entanto que tenho minhas dúvidas, o Gregor Samsa. Acho que se não fosse o problema dele ter virado um inseto, coisa que não sei de onde tiraram a ideia de que seria uma barata, já que pelo menos nas traduções que eu li poderia ser um besouro, mas como tenho sérios problemas com insetos em geral, besouros, baratas, borboletas, mariposas, gafanhotos, tenho fobia a todos eles. Sou do tipo que não pode ver borboletas nem desenhadas por crianças. Imagina pensar numa pessoa metamorfoseada num inseto enorme, um pavor completo. Mas ao mesmo tempo, eu sinto uma compaixão enorme pelo personagem, pelo ser humano que ainda reside nele, no momento que a família passou a vê-lo como uma vergonha, e ele chegou a ser atacado por aquela maçã, eu não consigo descrever o que eu senti nesse momento da história. Eu chorei convulsivamente por horas com essa atitude do pai. Deu vontade de proteger.

Interessante que durante o processo de elaboração do texto, percebo que a quantidade de personagens que detestaria encontrar não são muitos. Deve ser porque a Literatura sempre nos traz coisas boas. Mesmo quando estamos lendo livros densos, cheios de tragédias, nos expondo o lado mais sombrio da vida, ainda assim somos inundados por sentimentos, por luzes e sombras, sobretudo pela beleza de um texto bem escrito. Não sei se algum dia serei capaz de escrever como um grande escritor, mas tento fazer o melhor que eu posso. E vou prestando minhas singelas homenagens nessas linhas, nesse espaço que eu criei para expressar minhas ideias, e escrever simplesmente porque eu amo a palavra escrita. Aos grandes e pequenos escritores meu muito obrigada por colocarem esses personagens na minha vida, tanto os legais quanto os chatos.

Personagens que eu Passaria um Dia se eu Pudesse - Texto Rápido

Acho que todo amante de livros, sobretudo romances já se imaginou tendo encontros com personagens, o que seria dito nesses encontros, se daria algum conselho, ou iria preferir ouvir mais, resolvi listar brevemente aqui uns que me vêm a mente quando penso nisso.

Na minha infância são dois, A Sofia do livro Sofia, a Desastrada de Condessa de Segur, pois a menina se dava mal o tempo todo, um dos poucos personagens infantis antigos que mostrava a infância do jeito que ela era, sem muita fantasia. Eu era igualzinha. O outro seria o Tistu, do Menino do Dedo Verde, Maurice Druon, o primeiro e único livro infantil do autor e foi muito bem sucedido, lembrando que os livros adultos são muito bons. O Tistu é outro que eu adoraria brincar e ter como amigo.

Na adolescência, seria a Clara da Casa dos Espíritos, Isabel Allende, sou uma das que detestou a escolha da Merill Streep pra fazer a personagem, por maior que seja o talento dela, não dá pra encaixar a personagem com o rosto dela, deveriam pegar uma atriz mais morena e mais jovem, pois mesmo depois de uma certa idade, dava a entender que ela mudou pouco. O único ator que achei bem escalado foi o Jeremy Irons. Outro seria Adonai do livro homônimo com o subtítulo de Novela Iniciática do Colégio dos Magos do Jorge Adoun, ele também é conhecido como Mago Jeffa, acho interessante porque ele joga toda a história no contexto libanês, O Adonai da história começa como Adônis e ele é cheio de dons espirituais, e é inteligente pra caramba, mas se envolve com um dos vários problemas políticos do Líbano e tem que se isolar numa comunidade drusa onde conhece um mago que tem que ajuda-lo na sua iniciação, mesmo depois de iniciado, quando passa a se chamar Adonai, ele chega a ser conselheiro de um vizir, lidando com essas questões mais políticas mesmo. 

Nos meus 20 anos adoraria conviver com Sherlock Holmes, que dispensa comentários.

Agora aos 30 e tantos penso em todos os psicanalistas criados, tanto os inspirados em personagens reais quanto os fictícios, pelo Irvin D. Yalon, o do Quando Nietzsche Chorou. Adoraria conversar com todos eles, e sobretudo ser paciente do autor.


Claro que há personagens mais ricos, existencialmente claro, que até gosto bastante, o Dorian Gray, do Retrato por exemplo, adoro o livro, adoro o jeito como ele vai se construindo e desconstruindo, mas não sei se daria pra aguentar toda aquela bajulação em torno da figura dele, nem o Sir Henry, provavelmente. Amo o livro O Estrangeiro do Albert Camus, o Meursault, quem sabe? Ele parece frio e apático, mas algumas coisas fazem sentido. Vira e mexe me pego pensando que essa é uma pessoa que me entenderia. Muito bom pra quando estamos precisando de respostas cruas, sem rodeios. Na realidade seria interessante um personagem por dia. Nossos dias mudam, as companhias literárias também.