segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Criacionismo nas escolas. Pode isso?

Antes de eu responder essa questão, preciso esclarecer que há muito tempo não tenho mais paciência pra discutir política e religião. Mas fico terrivelmente indignada quando esses dois assuntos mexem diretamente com a Educação, bem como a formação de crianças e adolescentes. Sou professora que atua nas áreas de humanas, e mesmo não sendo bióloga repudio frontalmente qualquer tentativa de contrabandear, sim gosto de termos fortes, conteúdo de caráter religioso ou mesmo ideológico nas aulas de ciências. Como é o que o deputado Marco Feliciano ( fiquei arrepiada só de ter que escrever o nome dele) pretende fazer com um projeto de lei.

Mas por que sou contra?

Minha maior preocupação é claro com a Educação, e é evidente que todos sonham com uma Educação de qualidade nas escolas, que é sabido que a Educação é a principal ferramenta que dispomos para o progresso e o desenvolvimento de um país. Basta ver os países de primeiro mundo, eles estão nessa posição não por acaso e sorte, eles estão lá porque investiram em Educação. Simples assim.

Mas seria qualquer Educação? Não, óbvio que não. Na grande parte dessa Educação de qualidade, a que verdadeiramente serve de alavanca para o desenvolvimento, esta a ênfase no conhecimento científico e tecnológico, já que são esses conhecimentos que geram recursos para que um país seja efetivamente independente. Se fôssemos pródigos nesses conhecimentos, muito provavelmente, não teríamos que importar smartphones do exterior, teríamos condições de produzir essa tecnologia aqui mesmo. Até mesmo a agricultura, que é nossa principal fonte de riquezas, depende de grande conhecimento científico para produzir alimentos. Não é possível atender a uma demanda de milhões de habitantes aqui no país, e bilhões pelo mundo, com agricultura primitiva, precisamos de cada vez mais máquinas pra dar conta de todo o processo, desde o plantio até a colheita e posteriormente a distribuição.

Simplesmente não dá pra colocar criacionismo e ciências no mesmo patamar, não estão, ainda mais quando pensamos no quanto estamos atrasados, os índices internacionais estão há anos nos colocando entre os últimos colocados em Educação. E conhecimento científico esta entre os fatores avaliados nas provas. Como os alunos poderão competir assim? Com os conteúdos cheios de ambiguidades? Até mesmo para a questão ambiental temos que investir pesado em ciências, veja o que esta acontecendo aqui no Estado de São Paulo, onde moro. Temos uma seca, ao que parece, das piores em décadas. Tivéssemos uma população mais bem educada e preparada, mais sensível aos problemas ambientais e mais estrutura pra lidar com isso tudo.

Espero que com esse texto eu possa contribuir de alguma maneira com essa questão. Não fiz uma crítica clara ao projeto, mostrando onde ele esta errado, preferi focar na importância do conhecimento científico para a sociedade. Minha preocupação sempre será com a Educação. E só acredito numa Educação se ela trouxer uma sociedade melhor, menos injusta, e que nos traga ferramentas para o desenvolvimento do país.

sábado, 5 de julho de 2014

Gatos II

Adoraria que esse texto fosse mais um falando das inúmeras qualidades dos gatos, mas o que me traz de volta a escrever sobre esses animais fantásticos foi uma notícia que eu li. Isso foi numa quinta feira, num post da jornalista Cora Rónai, que como muitos sabem é apaixonada por gatos.

A notícia foi essa aqui: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/07/prefeitura-do-rio-retira-gatos-de-sua-sede-sob-protesto-de-ongs.html. Nem vou editar esse link, pois prefiro que já tenham ideia do que se trata.

Bom, eu acho até que todos os gatos deveriam ter um lar, e viver cercados de amor, pois eles adoram carinho, e são extremamente carinhosos também, vale muito a pena ter um gatinho em casa, até hoje nunca me arrependi de nenhuma gata que tive em minha vida. Mas infelizmente nem todos os gatos têm essa sorte de ter um lar, ser adotado, e muitos não seriam elegíveis a adoção também. E o que acontece, então com eles? Ficam nas ruas, mas normalmente eles acabam elegendo parques e jardins públicos pra montar pequenas colônias, e lá acabam se reproduzindo. O que pode vir a incomodar algumas pessoas, e preocupar outras. Mas não é de hoje que um grupo de pessoas, e entidades observaram essa situação e resolveram se movimentar pra minimizar os possíveis transtornos.

São ONGs, pessoas que se preocupam e vão lá fazer alguma coisas, protetores que já montaram um esquema parecido com uma rede de atuação nas cidades. O que eles fazem é basicamente o que um proprietário responsável faz pelos seus gatos domésticos, só que essas pessoas resolveram fazer por todos os gatos de rua que encontram, isso inclui vacinação, vermifugação, e castração. E claro dão comida e muito amor. Ou seja, os gatos não oferecem riscos a ninguém, já que as providências pra evitar epidemias são tomadas, e a castração cuida para que essa população não aumente, e se aumentar, temos que levar em conta o número de gatinhos abandonados pelos donos também.

Depois dessa introdução de esclarecimento, sobre o que esta acontecendo, e como essa medida afeta a vida dos gatos, já que como esta dito na matéria eles serão encaminhados a gatis, e isso se muitos não forem mortos nesse processo de remoção. Agora falo o que eu penso dessa história. Digo logo de cara, estragou meu dia.

Eu, como escrevi num post anterior, amo gatos, tive 4 gatas, e teria tido bem mais do que isso se eu tivesse morado sempre em lugares que fossem permitido animais. Então, fiquei muito tempo sem poder ter um gatinho por perto. E quem gosta sente falta de ter um, ou vários. E eram justamente esses gatos de parques, praças e jardins públicos que satisfaziam minha carência. Cheguei a fazer amizade com uma gata que sempre ficava no pátio de um condomínio perto da minha casa. Ela já me reconhecia, eu sempre que passava em frente ao prédio tirava uma horinha pra brincar com ela, fazer uns carinhos, e durante um tempo a considerei minha melhor amiga, mesmo não sendo a minha gata. Fico pensando que muita gente pode ter esse tipo de convivência com os gatos. Muito provavelmente a única forma que essa pessoa pode se relacionar com os gatos, isso falando apenas das pessoas que passam em frente ao local e aproveitam pra curtir um pouquinho, fico imaginando as pessoas que investiram uma vida pra ajudar, deve ser um desespero.

Diferente do que muitos ainda devem pensar, gatos se apegam sim às pessoas com as quais eles convivem, eles sofrem de saudades, precisam de carinho, não estamos lidando com seres imunes ao sofrimento. Alem desse aspecto o prefeito com isso estará dando um tiro no pé, já que o mundo moderno espera que haja harmonia na convivência entre animais de rua e os humanos, que haja menos casos de envenenamentos de animais, que haja menos atropelamentos, menos maus tratos, a presença desses gatos nesses lugares acessíveis estimula essa convivência saudável. O recado que a prefeitura esta dando é que gatos são pragas, e que devemos nos livrar disso. Posso estar sendo crua, mas a realidade é essa, quem faz isso pensa exatamente desse jeito. Então é esse o valor que queremos passar às pessoas? Eu não, posso ter poucos leitores, mas mesmo assim não poderia deixar de me pronunciar sobre isso.

Chegou a circular uma petição pra evitar que isso fosse levado adiante, mas pelo visto não deve ter chegado a tempo, ou foi desconsiderada, mas estou na esperança que ainda seja possível fazer algo a respeito. E que isso não volte a acontecer em outros lugares, não apenas no Rio de Janeiro, como também em outras cidades que tenham esses animais comunitários. Que diferente de serem retirados, deveriam ser considerados patrimônios da cidade

segunda-feira, 26 de maio de 2014

Gatos

Quando pensei em criar esse blog pensei em escrever basicamente sobre ceticismo, o nome dele sugere isso, mas até agora não consegui manter uma unidade temática nas postagens, mas o que esperar de uma pessoa com interesses tão abrangentes? Um deles são gatos, adoro gatos. Acho que o mundo simplesmente ficaria bem mais feio sem eles, não só os domésticos como também os exemplares selvagens. Cada um mais lindo que o outro. Nesse sentido resolvi compartilhar como eles entraram na minha vida.

Sei que foi uma paixão tardia, já deveria estar com meus vinte e poucos anos, antes influenciada por séries como a Lassie e Rintintin, achava que cachorros eram os melhores, e a minha família chegou a ter cachorros, mas o interessante é que a paixão era concentrada na infância do animal, pois as raças envolvidas eram de grande porte, e mais tarde eram usados como proteção da casa, hoje não sei se gosto dessa visão utilitarista da coisa. Mas na época parecia normal. Afinal o Rintintin era até soldado, e sim, tivemos pastores alemães em casa. Até que mudamos pra apartamento, meu pai e minha mãe nunca mais pensaram em ter cachorros, nem daqueles pequenos. Nesse tempo meu pai morreu, meu irmão casou, ficamos só eu, minha mãe e minha irmã mais nova em casa. Foi aí que aconteceu de uma amiga da minha mãe nos dar de presente uma gatinha, era uma tigradinha meio cinza, não sei descrever a cor. Demos a ela o nome de Janis Joplin, simplesmente amamos. A  Lua uma mistura de persa com angorá, frajola, veio no dia da primeira consulta da Janis ao veterinário, fomos vacinar uma gata e voltamos com duas gatas pra casa. Foi impossível resistir à fofura extrema da Lua.

A Lua deu o golpe definitivo, o fatality, eu e minha irmã fomos contaminadas incuravelmente pela paixão pelos gatos. Que Lessie que nada, Garfileld é que reina absoluto. Comecei a ver os desenhos do Tom & Jerry, do Frajola e Piu- Piu de outra maneira, achando os gatos retratados de maneira muito injusta nesses desenhos. Tenho vontade de esganar o Piu- Piu. Ainda simpatizo com o Manda Chuva, pelo menos mostra um grupo de gatos tentando sobreviver do jeito que podem. Depois comecei a tomar consciência do tamanho do preconceito com eles. Que não são amigos, que gostam mesmo é da casa. Esse tipo de coisa.

Ledo engano, quem diz isso ou nunca teve um gato, ou se teve nunca se deu ao trabalho de prestar atenção aos sinais que eles emitem o tempo todo. Eles são super carinhosos, são meigos, dóceis, às vezes agitados, mas tudo é compensado com doses intensas de afeto, de fofura e amor. São ótimos amigos. Lindos.

Mas por que resolvi escrever sobre eles?

Semana passada uma gata californiana reacendeu essa discussão sobre o valor que os gatos dão aos donos, a gata simplesmente deu um chega pra lá num cachorro que estava atacando o filho dos donos. A gata ficou famosa no mundo inteiro. O vídeo que mostra a cena foi visualizado quase 20 milhões de vezes, a gata foi homenageada num jogo de beisebol. Virou heroína nacional praticamente. Mas antes disso já vi relatos de gatos que pularam em cima do dono que estava desmaiado numa tentativa de fazê-lo voltar a consciência, gatos que acordaram donos pra alertar de incêndios na casa. Ou seja, são relatos e mais relatos atestando as qualidades felinas. Falo felinas, pois já vi gestos de gratidão até mesmo de um leão, quem não conhece, procurem conhecer a história do leão chamado Christian, emocionante. Outro vídeo recente foi de um lince se desmanchando em carinhos por um garoto. Isso tendo em mente que são animais selvagens. Não domesticados. Ou seja, os gatos estão com tudo. Finalmente parece que história esta começando a fazer justiça a eles. A internet pelo menos já é deles. Reinam absolutos em vídeos, posts, memes e tudo mais.

Esse post é um agradecimento pela existência desses seres lindos e fofos, e uma homenagem às gatas que entraram na minha vida, e uma em especial que esta comigo agora, a Mimi, que de uma forma diferente ela salvou a minha vida, é por causa dela que acordo todos os dias. Ela que me dá forças pra continuar na luta. Antes eu acordava sempre de mau- humor, ver a carinha dela logo cedo isso não é mais possível. Amo até vê-la dormindo, ela parece sempre que esta fazendo algo pra me divertir. Eu a amo.  E também é uma menção honrosa a todos os gateiros e gateiras que lutam por eles. Aos que buscam quebrar os preconceitos contra os gatos, que conscientizam as pessoas quanto à necessidade de protegê- los. Temos um longo caminho a percorrer, mas já percorremos um bom caminho. A todos os gatos do mundo meu muito obrigada por vocês existirem.

domingo, 6 de abril de 2014

Personagens que Jamais Gostaria de Encontrar - um contraponto do outro post.

Na postagem anterior mencionei os personagens que gostaria de passar o dia, mas depois fiquei pensando que há personagens que definitivamente detestaria encontrar, se encontrasse provavelmente o resultado seria o desastre. Vou seguir o mesmo esquema de começar pela minha infância e depois vou seguindo até hoje.

Na minha infância eu li Pollyanna, sim, eu li. Confesso que naquela época até que gostei, mas depois de algumas reflexões, alguns acontecimentos desagradáveis depois, percebi que o tal "jogo do contente" era a última coisa que eu precisava como consolo, que toda vez que alguém chegava com uma lógica parecida comigo, eu tinha vontade de socar essa pessoa na cara, afinal, quando estamos desesperados por algum motivo saber que há pessoas que estão piores não ajuda, ainda mais porque eu ficava com a impressão que minha interlocutora não estava assim tão preocupada com o meu problema, já que se ela tinha cabeça pra pensar em outros supostos sofredores, que supostamente estavam piores que eu, então eu não tinha importância nenhuma pra ela, então ela que fosse consolar essas pessoas mas sofridas que eu e me deixasse em paz. Outro dado sobre a Pollyanna, é que ela esquecia seus próprios problemas em função dessas mesmas pessoas piores que ela, caraca, na real essa garota não se dá a menor importância, ela tem sérios problemas de negação, o fato de pessoas sofrerem mais que ela, ou sofrerem mais que eu, não significa que meu sofrimento ou o dela não tenha importância, nem mereça atenção. E quando tudo parecia que isso ia ficar somente na minha infância, eis que me aparece o Pangloss.

O Pangloss para mim é uma versão adulta e mais filosófica da Pollyanna, ele é uma espécie de mestre e companheiro de aventuras de Cândido, do livro clássico do Voltaire. Enquanto eu lia esse livro, não via a hora que o Pangloss caísse na real, já que toda a aventura estava marcada por um monte de desgraça. Isso complica muito. Já que nem sempre manter o otimismo cego ajuda, às vezes uma pessoa que assume que a situação esta complicada enxerga melhor as saídas. Se é que existe saída. Mas ainda bem que diferente da Eleanor H. Porter, a autora da Pollyanna, Voltaire é um gênio literário e filosófico, o que fez dessa abordagem do otimismo uma leitura muito, mas muito mais interessante mesmo. Os momentos de ironia no texto geniais, adoro esse livro. Completamente diferente da pieguice emética da Pollyana. No fundo acho os otimistas demais muito chatos.

Uma personagem recente que odiaria encontrar é a Dolores Umbridge, que foi a professora de Defesa contra as Artes das Trevas de Harry Potter, acho que de todos os vilões ela é a única personagem que realmente consegui sentir repulsa. Diferente de vários vilões clássicos da Literatura, que costumam ter um certo charme, um carisma, a Dolores não é nada disso. Ela é chata, não dá pra sentir a menor empatia com ela. Falo empatia mesmo. Vejamos o Voldemort, mesmo com toda maldade, somos tentados a entender o que se passou com ele, sabemos que a vilania dele tem uma causa, é um personagem psicologicamente complexo, ele não é chato, há momentos que dá até pra entender o por quê dele ser do jeito que é. Mas a Dolores, francamente não dá. Ela é má por pura opção. E parece que não faz a menor questão de ser diferente. Há uma coisa que já faz da J. K Rowling uma escritora histórica, ela conseguiu criar a vilã mais desagradável de todos os tempos. Nunca tive tantos problemas com os vilões, mas essa é a mais desagradável de todas. Alias os vilões costumam ser até bastante sedutores. Personagens interessantes mesmo.

Há um personagem no entanto que tenho minhas dúvidas, o Gregor Samsa. Acho que se não fosse o problema dele ter virado um inseto, coisa que não sei de onde tiraram a ideia de que seria uma barata, já que pelo menos nas traduções que eu li poderia ser um besouro, mas como tenho sérios problemas com insetos em geral, besouros, baratas, borboletas, mariposas, gafanhotos, tenho fobia a todos eles. Sou do tipo que não pode ver borboletas nem desenhadas por crianças. Imagina pensar numa pessoa metamorfoseada num inseto enorme, um pavor completo. Mas ao mesmo tempo, eu sinto uma compaixão enorme pelo personagem, pelo ser humano que ainda reside nele, no momento que a família passou a vê-lo como uma vergonha, e ele chegou a ser atacado por aquela maçã, eu não consigo descrever o que eu senti nesse momento da história. Eu chorei convulsivamente por horas com essa atitude do pai. Deu vontade de proteger.

Interessante que durante o processo de elaboração do texto, percebo que a quantidade de personagens que detestaria encontrar não são muitos. Deve ser porque a Literatura sempre nos traz coisas boas. Mesmo quando estamos lendo livros densos, cheios de tragédias, nos expondo o lado mais sombrio da vida, ainda assim somos inundados por sentimentos, por luzes e sombras, sobretudo pela beleza de um texto bem escrito. Não sei se algum dia serei capaz de escrever como um grande escritor, mas tento fazer o melhor que eu posso. E vou prestando minhas singelas homenagens nessas linhas, nesse espaço que eu criei para expressar minhas ideias, e escrever simplesmente porque eu amo a palavra escrita. Aos grandes e pequenos escritores meu muito obrigada por colocarem esses personagens na minha vida, tanto os legais quanto os chatos.

Personagens que eu Passaria um Dia se eu Pudesse - Texto Rápido

Acho que todo amante de livros, sobretudo romances já se imaginou tendo encontros com personagens, o que seria dito nesses encontros, se daria algum conselho, ou iria preferir ouvir mais, resolvi listar brevemente aqui uns que me vêm a mente quando penso nisso.

Na minha infância são dois, A Sofia do livro Sofia, a Desastrada de Condessa de Segur, pois a menina se dava mal o tempo todo, um dos poucos personagens infantis antigos que mostrava a infância do jeito que ela era, sem muita fantasia. Eu era igualzinha. O outro seria o Tistu, do Menino do Dedo Verde, Maurice Druon, o primeiro e único livro infantil do autor e foi muito bem sucedido, lembrando que os livros adultos são muito bons. O Tistu é outro que eu adoraria brincar e ter como amigo.

Na adolescência, seria a Clara da Casa dos Espíritos, Isabel Allende, sou uma das que detestou a escolha da Merill Streep pra fazer a personagem, por maior que seja o talento dela, não dá pra encaixar a personagem com o rosto dela, deveriam pegar uma atriz mais morena e mais jovem, pois mesmo depois de uma certa idade, dava a entender que ela mudou pouco. O único ator que achei bem escalado foi o Jeremy Irons. Outro seria Adonai do livro homônimo com o subtítulo de Novela Iniciática do Colégio dos Magos do Jorge Adoun, ele também é conhecido como Mago Jeffa, acho interessante porque ele joga toda a história no contexto libanês, O Adonai da história começa como Adônis e ele é cheio de dons espirituais, e é inteligente pra caramba, mas se envolve com um dos vários problemas políticos do Líbano e tem que se isolar numa comunidade drusa onde conhece um mago que tem que ajuda-lo na sua iniciação, mesmo depois de iniciado, quando passa a se chamar Adonai, ele chega a ser conselheiro de um vizir, lidando com essas questões mais políticas mesmo. 

Nos meus 20 anos adoraria conviver com Sherlock Holmes, que dispensa comentários.

Agora aos 30 e tantos penso em todos os psicanalistas criados, tanto os inspirados em personagens reais quanto os fictícios, pelo Irvin D. Yalon, o do Quando Nietzsche Chorou. Adoraria conversar com todos eles, e sobretudo ser paciente do autor.


Claro que há personagens mais ricos, existencialmente claro, que até gosto bastante, o Dorian Gray, do Retrato por exemplo, adoro o livro, adoro o jeito como ele vai se construindo e desconstruindo, mas não sei se daria pra aguentar toda aquela bajulação em torno da figura dele, nem o Sir Henry, provavelmente. Amo o livro O Estrangeiro do Albert Camus, o Meursault, quem sabe? Ele parece frio e apático, mas algumas coisas fazem sentido. Vira e mexe me pego pensando que essa é uma pessoa que me entenderia. Muito bom pra quando estamos precisando de respostas cruas, sem rodeios. Na realidade seria interessante um personagem por dia. Nossos dias mudam, as companhias literárias também. 

domingo, 2 de março de 2014

Sobre a Aprovação Automática: pronto falei.

Existe numa condição discreta, passando despercebida para uma boa parcela da população uma espécie de batalha entre pedagogos e professores, até porque é bom esclarecer logo que há diferenças. Pedagogos essencialmente são formados em pedagogia, estudam métodos de ensino e os aplicam genericamente em todas as áreas escolares. Quando atuam nas escolas podem vir a ensinar qualquer coisa, ou mesmo compor o quadro administrativo: direção, coordenação, orientação etc. Nas faculdades são os que ensinam disciplinas como Fundamentos da Educação, Didática, Prática de Ensino e supervisionam os estágios dos futuros professores. O pedagogo é basicamente um professor que ensina um outro professor a dar aulas. O professor, por sua vez, pode ser qualquer um que tenha feito algum curso de Licenciatura, nesse caso ele obtém o título numa área específica do conhecimento. No caso Licenciatura em Matemática, Licenciatura em Letras, Biologia, Artes, Música, etc. Então o professor poderá lecionar apenas nessas áreas. Salvo alguns casos excepcionais, como cidades em situações de extrema carência de profissionais, que acabam pegando professores para ensinarem matérias que não são suas respectivas especialidades.

Fiz essa introdução toda acima para tentarmos, ao longo do texto, entender porque certas bizarrices acontecem em nossas escolas. Uma das que percebo quase sempre é algo chamado "progressão continuada", mas que ficou popularmente conhecida como "aprovação automática", que significa isso mesmo que o nome indica. O aluno não será reprovado, mesmo que todas as evidências mostrem que ele não tem a mínima condição de seguir em frente. Na realidade esse caso mostra muito mais sobre a preguiça de se aprofundar em certos métodos, do que um caso de irresponsabilidade, quem quiser entender preguiça e irresponsabilidade como palavras afins, não façam cerimônia. 

O fato é que existem mesmo vários trabalhos acadêmicos, estrangeiros claro, sobre esse tema. Um dos teóricos que podemos utilizar para ficarmos numa fonte que conheço bem, o Philippe Perrenoud, estabeleceu uma mudança radical na dinâmica em salas de aula. E uma das ideias dele consiste justamente em dividir os anos escolares em ciclos que podem ser de 2 em 2 anos, 3 em 3 anos, desde que em tempos iguais, somente ao final desses ciclos o aluno seria avaliado como elegível ou não para o ciclo seguinte. Mas a rigor não quer dizer que ele não sofrerá nenhuma detenção nesse meio tempo. Isso porque a grande diferença dessa concepção não esta aí, no fato do aluno ser simplesmente aprovado, alias o aspecto da aprovação vem a ser, a meu ver, o menos importante disso tudo. Mas antes que eu siga explicando a base do método, farei uma breve explanação sobre a relação de ensino-aprendizagem.


Muitos já ouviram algo como "não há ensino, sem aprendizagem", "ensinando é que se aprende", o que parece importante, já que muitas vezes temos ambas as coisas simultaneamente, mas para efeito da minha demonstração devemos separar por algum momento esses conceitos. A pedagogia tradicional costumava centralizar seus esforços no ensino, nessa condição o grande protagonista é a figura do professor, e este deveria dar brilho, caprichar bastante na sua oratória para expor o conteúdo da aula de maneira que ele pareça bastante claro para os alunos, é a chamada aula expositiva, o professor fala, os alunos anotam, copiam, e raras vezes se sentiam à vontade de tirar alguma dúvida, ou mesmo fazer algum questionamento sobre a exposição do professor. Com o desenvolvimento da Psicologia Cognitiva, os pesquisadores passaram a se preocupar em entender o que faz uma criança aprender. Veja que esses professores antigos jamais pensariam nesse problema. Nunca se perguntavam se os alunos estavam efetivamente aprendendo. Para eles seria um desrespeito pensar que a aula maravilhosa dele não faria o aluno aprender. Afinal alguns alunos tiravam boas notas, quem tirasse nota baixa, não é inteligente o suficiente, não é esforçado. E outras acusações do tipo. Na realidade era um sistema que premiava o esforço. Pois muitas vezes o famoso aluno esforçado não havia entendido a aula, mas como era responsável e estudioso, não saía do quarto até aprender alguma coisa. Mas preocupação com os alunos mais "fracos", o professor não tinha mesmo. Foi essa a grande mudança que as Ciências Cognitivas trouxeram para a pedagogia. Não nos interessamos mais na forma como o professor ensina, queremos entender como é que os alunos aprendem. Todos são capazes de aprender? Parecia que sim, o que provavelmente precisamos fazer é apertar os botões corretos do cérebro de cada aluno. Aprender o mapa do aprendizado, essa parecia ser a chave do problema.


O que nos traz de volta ao Perrenoud, ele concluiu que sempre que pensarmos a Educação e a Pedagogia em termos de conteúdo, o professor jamais sairá do palco central, lembrando que é o professor que detém o conteúdo, ele o transfere generosamente aos alunos, se eles não aprendem é uma injustiça total. Perrenoud pensou, o que os alunos devem se tornar? A palavra que surgiu foi competência, imagino que estejam percebendo a diferença. A ideia não é mais fazer o aluno assimilar um conteúdo, é fazê-lo competente no trato com aquela área do conhecimento. Então ele definiu o que seria um conjunto de competências desejáveis a serem adquiridas naquele ciclo, os tais ciclos que falei acima, e cada competência seria conquistada, sim, a ideia é de conquista, seria trabalhada na forma de aulas problemas. As aulas funcionariam como aquelas reuniões de brainstorm, onde todos participam na solução dos problemas propostos. Há exemplos nos livros dele de atividades até curiosas e desafiadoras, como escrever uma redação inteira sem usar uma única palavra que contenha uma letra qualquer, tipo eliminar a letra E. Como os alunos farão esse trabalho? A solução deve sair dos próprios alunos. Depois os trabalhos seriam lidos para a classe, haveria a exposição da maneira que eles usaram para resolver esse problema. O objetivo dessa atividade seria desenvolver a competência de escrita e vocabulário. Nada parecido com isso é feito nas escolas brasileiras, como já devem estar percebendo. E dizer que o aluno seria aprovado sem mais nem menos é um absurdo, no caso dessa atividade, se algum aluno não obtiver os resultados esperados, vejam que o objetivo da atividade é claro, fácil saber se houve sucesso ou não, no caso de o aluno não conseguir ele vai repetir a atividade, ou seja ele repete a competência, mas suponhamos que esse mesmo aluno, foi ótimo em outra atividade, tipo alguma ligada a uma competência de Matemática, daí sim ele segue adiante. O importante que ao longo do ciclo o aluno chegue ao final dominando todas as competências necessárias da etapa em questão. 

Quais as conclusões que podemos extrair disso tudo? Que para tudo isso funcionar daria um trabalho danado, deveria haver uma seleção mais rigorosa das competências que são realmente indispensáveis aos alunos, pois cada competência dessa levará um número maior de aulas para serem trabalhadas. O professor deverá estabelecer prazos e planejamentos mais concretos, não podemos cair no laissez faire. Ou seja, tanto professores quanto alunos deverão trabalhar muito mais para a coisa funcionar. As classes deverão conter menos alunos, a maioria das atividades seriam feitas em grupos, e posteriormente todas debatidas com todo mundo. As notas devem ser dadas todos os dias, provas bimestrais, semestrais estariam abolidas, já que todas as atividades funcionam como provas, até um espirro é avaliado. Isso é interessante pois o professor pode identificar o exato momento em que o aluno apresenta a dificuldade que esta atrapalhando o progresso, e atacar esse problema em tempo real, não depois de 2 meses de problemas acumulados. Outra consideração a fazer sobre o que Perrenoud entende por competência é que alem de você ter domínio das que você trabalhou junto dos colegas e professores, o aluno deve ser capaz de extrapolar aqueles conceitos para outras situações diferentes, coisa que não acontece numa abordagem conteudista.

No geral é bastante atraente essa ideia quando tomamos conhecimento das partes mutiladas, eu especialmente até gosto bastante. E não aguento ver gente distorcendo ideias por puro oportunismo, seja de ordem política, seja por preguiça e desonestidade intelectual, e é claro que como nem todos os cidadãos estudam Licenciatura na faculdade, acabam não entendendo de onde surgem certas ideias. E criticam com toda razão. Não existe essa bizarrice que implantaram em nossas escolas. É claro que ainda há muito mais coisa a falar sobre metodologia de Perrenoud, mas vou deixar para um post futuro. Acho que as informações que deixei aqui já atendem a necessidade de pelo menos mostrar o outro lado dessa questão. Não acho que um aluno deva ser reprovado sumariamente, muitas vezes por causa de uma única matéria. Mas isso tem uma distância enorme em relação a passar de ano sem saber nada. Nesse caso temos as retenções, essa deve ser aplicada sim. Claro. 


sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Palavrão: um pequeno insight.

Não é de hoje que sinto necessidade de terapia, as razões que me levam a isso não cabem aqui nesse texto, pode ser que eu explore melhor numa outra oportunidade. O que trago aqui é compartilhar umas impressões que tive nessas experiências, sobretudo essa última tentativa. Penso que qualquer um que já tenha passado por quase uma dezena de terapeutas, e quase o mesmo número de linhas terapêuticas sabe que nem sempre as relações entre terapeutas e pacientes são as mais harmônicas, as mais produtivas. Alguns conseguem nos conectar com nossas essências, outros parecem querer fabricar essa essência, colocam palavras nas nossas bocas, forçam importância a uma determinada frase que não proferimos com esse tom de destaque todo. É basicamente isso que estava acontecendo com essa minha terapeuta mais recente, meu namorado já havia sentido que havia problemas nesse jeito de proceder a terapia. Mas eu, por ser uma pessoa de pagar pra ver, dar chances pro outro se mostrar melhor, fui ficando nessa terapeuta, até que algo pareceu me despertar pra inutilidade de insistir nessa abordagem, há uma série de coisas que preciso resolver em relação aos meus fantasmas? Claro que há. Mas existe algo que uma abordagem mais pragmática será mais útil? Sim, eu preciso acreditar nisso.

Há umas 2 semanas me coloquei em marcha pra ir atras de outro tipo de ajuda, liguei pra essa terapeuta pra dizer que estava saindo do processo, que precisava cuidar de outras coisas, e que não iria mais lá. Mas ela tentou insistir em marcar um encontro pra discutir a minha decisão. Num primeiro momento até me pareceu justo. Mas a medida que o encontro se aproximava, minha vontade de mandar a mulher tomar no cu, sim, mandar um lindo e sonoro VAI TOMAR NO CU, aumentava exponencialmente. Falei sobre isso com meu namorado. Ele disse que não parece uma forma racional de tratar o assunto, concordo. Mas ao mesmo tempo esse trecho da conversa ficou martelando na minha cabeça, e pego-me refletindo sobre a natureza do palavrão.

Não gosto de negar que somos todos animais, o que costumamos conseguir no máximo é sublimar ou recalcar nossos instintos, não conseguimos neutralizá-los totalmente, do contrário acho que seríamos menos raivosos uns com os outros, até mesmo as emoções mais nobres, como o próprio amor, teriam outro nível de compreensão e manifestaríamos de um jeito diferente do que conhecemos isso tudo. Acho que sentimentos e emoções são nossas conexões animalescas. A diferença é que nossa espécie gosta tanto de ser especial, que criamos a linguagem, provavelmente os animais sentem amor da mesma forma que sentimos, mas nós demos nome a isso que sentimos e chamamos de amor. Uma forma de racionalizar algo que pertence às emoções. Ok, Zoe, mas onde entra o palavrão nisso tudo?


Fiquei pensando que o palavrão não chega a ser algo tão tosco assim. Em relação a minha atual ex-terapeuta, mandar "tomar no cu" não deixa de ser uma estrutura complexa, diante da raiva que eu estava sentindo acho que conseguir pensar numa frase, "vai tomar no cu", com uma construção sintática completa, verbo, sujeito "você" nesse caso elíptico, predicado, é ou não é uma frase sintaticamente completa? O que é questionável nos palavrões em geral é se seriam apropriados aos contextos de uso. Até perguntei ao meu namorado se ele preferia que eu lançasse um grunhido, aí sim minha animalidade estaria manifesta de maneira mais evidente, na realidade eu mando as pessoas tomarem no cu pra não ter que grunhir, ou rugir como os leões.

Nossa espécie é tão estranha que até pra xingar somos gramaticais. É apenas algo que me ocorreu.