sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Palavrão: um pequeno insight.

Não é de hoje que sinto necessidade de terapia, as razões que me levam a isso não cabem aqui nesse texto, pode ser que eu explore melhor numa outra oportunidade. O que trago aqui é compartilhar umas impressões que tive nessas experiências, sobretudo essa última tentativa. Penso que qualquer um que já tenha passado por quase uma dezena de terapeutas, e quase o mesmo número de linhas terapêuticas sabe que nem sempre as relações entre terapeutas e pacientes são as mais harmônicas, as mais produtivas. Alguns conseguem nos conectar com nossas essências, outros parecem querer fabricar essa essência, colocam palavras nas nossas bocas, forçam importância a uma determinada frase que não proferimos com esse tom de destaque todo. É basicamente isso que estava acontecendo com essa minha terapeuta mais recente, meu namorado já havia sentido que havia problemas nesse jeito de proceder a terapia. Mas eu, por ser uma pessoa de pagar pra ver, dar chances pro outro se mostrar melhor, fui ficando nessa terapeuta, até que algo pareceu me despertar pra inutilidade de insistir nessa abordagem, há uma série de coisas que preciso resolver em relação aos meus fantasmas? Claro que há. Mas existe algo que uma abordagem mais pragmática será mais útil? Sim, eu preciso acreditar nisso.

Há umas 2 semanas me coloquei em marcha pra ir atras de outro tipo de ajuda, liguei pra essa terapeuta pra dizer que estava saindo do processo, que precisava cuidar de outras coisas, e que não iria mais lá. Mas ela tentou insistir em marcar um encontro pra discutir a minha decisão. Num primeiro momento até me pareceu justo. Mas a medida que o encontro se aproximava, minha vontade de mandar a mulher tomar no cu, sim, mandar um lindo e sonoro VAI TOMAR NO CU, aumentava exponencialmente. Falei sobre isso com meu namorado. Ele disse que não parece uma forma racional de tratar o assunto, concordo. Mas ao mesmo tempo esse trecho da conversa ficou martelando na minha cabeça, e pego-me refletindo sobre a natureza do palavrão.

Não gosto de negar que somos todos animais, o que costumamos conseguir no máximo é sublimar ou recalcar nossos instintos, não conseguimos neutralizá-los totalmente, do contrário acho que seríamos menos raivosos uns com os outros, até mesmo as emoções mais nobres, como o próprio amor, teriam outro nível de compreensão e manifestaríamos de um jeito diferente do que conhecemos isso tudo. Acho que sentimentos e emoções são nossas conexões animalescas. A diferença é que nossa espécie gosta tanto de ser especial, que criamos a linguagem, provavelmente os animais sentem amor da mesma forma que sentimos, mas nós demos nome a isso que sentimos e chamamos de amor. Uma forma de racionalizar algo que pertence às emoções. Ok, Zoe, mas onde entra o palavrão nisso tudo?


Fiquei pensando que o palavrão não chega a ser algo tão tosco assim. Em relação a minha atual ex-terapeuta, mandar "tomar no cu" não deixa de ser uma estrutura complexa, diante da raiva que eu estava sentindo acho que conseguir pensar numa frase, "vai tomar no cu", com uma construção sintática completa, verbo, sujeito "você" nesse caso elíptico, predicado, é ou não é uma frase sintaticamente completa? O que é questionável nos palavrões em geral é se seriam apropriados aos contextos de uso. Até perguntei ao meu namorado se ele preferia que eu lançasse um grunhido, aí sim minha animalidade estaria manifesta de maneira mais evidente, na realidade eu mando as pessoas tomarem no cu pra não ter que grunhir, ou rugir como os leões.

Nossa espécie é tão estranha que até pra xingar somos gramaticais. É apenas algo que me ocorreu.

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