sábado, 22 de junho de 2013

Manifestos Nos tempos de Internet

Não é de hoje que a internet vem mudando o jeito das pessoas se reunirem em manifestações, isso já aconteceu no mundo árabe, com toda aquela teocracia, não seria diferente quando chegasse a vez do Brasil.

E certamente esses recentes acontecimentos políticos estão na pauta do dia, e ainda não sei se por sorte ou azar, coincide com os eventos da Copa das Confederações. E pela primeira vez temos a experiência de lutar por nossas necessidades, por mudanças políticas e obrigamos a mídia colocar o futebol como um assunto secundário.

Isso é ótimo, afinal não somos pagos para torcer, as contas mensais não são dispensadas durante a realização dos eventos. Não deixamos de ficar doentes, não sabemos quando teremos que ir a um hospital, mesmo quem tem plano de saúde não esta livre de ter que recorrer ao SUS. Pense, em caso de acidente grave, é pra onde levam a vítima numa emergência. Se depois você preferir ir para um hospital particular, ou credenciado pelo seu plano master de saúde, beleza, você é quem sabe.

Quanto às razões pelas quais lutar, ir às ruas, fazer e acontecer, não preciso falar muito sobre elas. Afinal são razões que já estão muito bem difundidas por  todas as redes sociais, jornais, a TV (mesmo com muita má vontade), qualquer pessoa que não esteve em Marte até ontem já sabe. Mas uma coisa que me fez escrever esse post é a nova cara da mobilização. Lembro que tive uma experiência no movimento estudantil, já fui presidente de Centro Acadêmico, diretoria de diretório central da universidade. Foi lá que comecei a perceber que várias pautas estudantis passavam longe daquilo que seria de interesse geral dos estudantes. Isso acontecia basicamente porque quem definia essas pautas não eram estudantes, eram partidos, sim, eles mesmos. Era um recurso pra recrutar possíveis lideranças no meio acadêmico.

Nesse caso, acabei pulando fora e cuidando mais do que deveria fazer na universidade, estudar. Mas fiz esse relato porque lembro de como eram feitas as mobilizações para passeatas e demais atos estudantis, era boca-a-boca, panfletos, era bastante trabalhoso, e geralmente a pauta era pre-definida. Muitas vezes nem eu entendia porque uma estudante, como eu, tinha que lutar por aquilo que eu estava chamando outras pessoas pra comparecer na passeata. Complicado.

É nesse ponto que a internet parece dividir e ao mesmo tempo unir pessoas, quando se tem perfil em redes sociais, mesmo que se coloque pessoas de várias tendências, alguns interesses e afinidades intelectuais entram em consonância. Troca-se uma ideia aqui, outra ali, compartilha-se links, estes links levam a outros, e toma-se conhecimento de que na praça tal haverá uma manifestação. Qual o tema? Ir contra uma PEC qualquer, afinal conheço 3, e todas acredito serem dignas de manifestações contrárias. Você não sabe do que essa PEC trata? Simples, acessa o Google e veja páginas e páginas com o conteúdo discutido ali. Agora você descobre que ela vai afetar as instituições democráticas, você se revolta e resolve postar no seu perfil, no seu blog, fazer vídeo no YouTube, e da mesma maneira outras pessoas terão acesso ao seu trabalho, e também fará as mesmas coisas. Nisso há uma incubação de ideias que serão sempre discutidas entre seus semelhantes, pessoas que moram na sua cidade ou não. É claro que alguma hora o movimento ia vazar do sofá para as ruas. É claro que quem esta participando mais efetivamente dessas manifestações deve saber como isso funciona. Mas parece que há uma turma que alem de não estar compreendendo, também não esta engolindo muito bem o fato.

São justamente os mesmos que sempre estiveram por trás das passeatas de outrora- os partidos. Os militantes que sempre careceram de um comando central, que sempre necessitaram que a pauta fosse definida de cima pra baixo, sempre respeitando uma hierarquia. Não estou aqui querendo fazer campanha apartidária, nem anti-partidária, apesar de eu não pertencer a partido nenhum, e não esteja me sentindo representada ( a exemplo de muita gente) por partido nenhum. Mas essas manifestações são pautadas simplesmente nas causas compartilhadas em redes sociais, fóruns, blogs, e fazem parte da legítima indignação popular. Nessas horas pra que serve um partido? Pra lhe dizer com que você deve ficar indignado? Não, definitivamente não. Partidos têm seu espaço, provavelmente não deixará de ter, afinal quem quiser exercer algum cargo aqui deverá pertencer a um. E uma vez que se elege alguém pelo partido X, este deve cumprir suas funções. E assim a coisa anda. Mas não venha me dizer que minhas preocupações políticas, sociais, filosóficas, ideológicas e intelectuais devam ser pautadas por algum partido, mesmo que eu seja uma eleitora de carteirinha desse partido X. Nunca aceitei sequer que meu conhecimento fosse pautado pelo conteúdo escolar, sempre achei a escola muito pouco pra mim. Sempre quis muito mais.

Essas manifestações provam que as pessoas sabem o que querem, sabem do que precisam, e provaram que podem se unir em torno disso tudo.

Nesse ponto que podemos inserir a dificuldade de certos intelectuais, políticos, e demais lideranças no fato de descobrir e não aceitar muito bem que eles não foram necessários. Na realidade quando se vê pessoas, como o Jabor, desqualificando e se retratando depois, o movimento, só posso entender que: eles estão agindo como aquele pai que descobre que o filho cresceu ao mesmo tempo que descobre que será avô. A mídia tradicional não esta digerindo que não tiveram o menor controle sobre as manifestações, não houve atores globais num comercial super produzido chamando a turma pra ir às ruas, os famosos que compareceram, o fizeram porque também chegaram lá como todo mundo, e pelos mesmos motivos. A mídia tradicional certamente gostaria de falar do clima festivo da Copa das Confederações e esta tendo que gastar um tempo enorme pra cobrir os protestos.

Só posso parabenizar as pessoas pela resistência, pela criatividade, com slogans geniais, e esperar que nada disso se dissolva tão cedo, pelo menos até que se derrube todas as pedras do dominó desse jogo.

P.S Depois eu falo sobre a violência e a abordagem da mídia, mas meu próximo post será sobre listas negras geradas nesse momento.

Um comentário:

  1. Não sei se cheguei a comentar com você o fato de que em maio deste ano, uma pesquisa do IBOPE indicou que o número de brasileiros acessando a Internet ultrapassou aqueles que não possuem acesso. Justamente no mês seguinte, essas manifestações explodem pelo país inteiro.

    Pode ser que um fato não esteja diretamente relacionado com o outro. Porém, o maior fluxo de idéias, a possibilidade de engajamento instantâneo e o acesso mais fácil às informações com certeza têm influência, como seu texto aponta muito bem. O que a estatística mostra é apenas um símbolo dos novos tempos.

    Tempos com os quais os partidos políticos tradicionais não estão nem um pouco adaptados. No discurso da presidente Dilma dessa última sexta, não apareceu nem uma vez a palavra Internet. Omissão não-intencional? Duvido. Os assessores presidenciais são mais do que capazes de reconhecer o papel da Internet nas manifestações. O que acontece é que mais uma vez temos uma tentativa de manipular a opinião pública. Se cada palavra foi medida na hora de ser colocada no discurso, então a omissão é significativa, já que seria contra-produtivo no ponto de vista do governo. Falar em Internet no discurso daria a chave do protesto pra quem ainda não se ligou no processo.

    Gostaria que você falasse além da violência, sobre o que pensa sobre a necessidade de termos partidos políticos do jeito como estão estruturados hoje.

    De qualquer forma, você como estrangeira deve saber o quanto era estranho que os brasileiros não se indignassem com a situação do país, com os roubos descarados, com as bravatas infantis do governo e de sua base de apoio, especialmente com o recrudescimento de movimentos conservadores e rançosos. Já comentamos antes o quanto sentimos raiva tanto da esquerda, quanto da direita.

    Finalmente percebemos que não estamos sozinhos.

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